Na chamada ‘agregação reprodutiva’, fêmeas secretam hormônios sexuais que podem atrair mais de um macho ao mesmo tempo. Esta reportagem foi originalmente publicada em janeiro e faz parte de um especial do g1 que relembra algumas das histórias mais lidas do ano. Bombou no g1: cacho de cobras Editoria de Arte/g1 Histórias curiosas, personagens divertidos e casos virais. Neste mês de dezembro, o g1 reconta reportagens que foram sucesso entre os nossos leitores ao longo de 2022. Hoje é dia de relembrar uma explicação sobre o “cacho” de cobras visto no Rio Grande do Sul. Esta reportagem foi publicada originalmente em 24 de janeiro. Relembre Morador da cidade de Santo Antônio da Patrulha (RS), Telmo Santos ficou surpreso ao flagrar um “cacho” de cobras de cobras-verde pendurados sob os galhos de um pé de mexerica. Curioso, ele publicou a imagem em um grupo no Facebook, na tentativa de entender qual fenômeno era aquele. A foto fez tanto sucesso que acabou descrita em uma nota científica de história natural na revista Herpetological Review, um periódico que reúne informações fundamentais para a compreensão da biologia das serpentes. Graças à curiosidade e preocupação de Telmo em saber mais sobre o achado, as biólogas Karina Banci e Silara Batista deixaram contribuir com informações técnicas que, depois de publicadas, passaram a servir de referência para pesquisas e ações de conservação das serpentes. “Muitos dos registros de história natural de serpentes são feitos a partir de fotos ou vídeos gravados por cidadãos comuns. Infelizmente nem sempre essas pessoas têm interesse ou acesso a um cientista que possa informá-la e orientá-la corretamente. Contudo, quando isso acontece , eventos interessantes e fundamentais para o estudo da fauna são realizados, como neste caso”, explicou Karina ao Terra da Gente. Segundo Karina, que também é especialista em répteis, a foto mostra uma agregação reprodutiva. “O fenômeno registrado é chamado cientificamente de agregação reprodutiva. Ocorre justamente no período reprodutivo e o objetivo é o sucesso da reprodução da espécie da por meio da cópula”, explicou um especialista. As serpentes registradas por Telmo são cobras-verdes (Philodryas olfersii), espécie amplamente distribuída na América do Sul. “Apesar de não ser considerada peçonhenta, é uma serpente de interesse médico, pois há relatos de acidentes ofídicos com a espécie de baixa gravidade a moderadamente.” “As fêmeas secretam pela pele hormônios chamados feromônios. Por meio do olfato, os machos são atraídos a feminina, sustentáveis, inclusive, seguindo as trilhas de feromônios que as femininas vão deixando por onde passam. Eventualmente, muitos machos são atraídos ao mesmo tempo por uma fêmea só, o que faz com que eles se agreguem em volta dela, tentando copular”, complementau. De acordo com um especialista, apenas um ou poucos machos conseguem copular eficazmente. “Isso acontece porque, ao terminar a cópula, o macho secreta uma substância gelatinosa, chamada ‘plug copulatório’, que acaba bloqueando a cloaca da fêmea por algumas horas ou poucos dias, tempo suficiente para os outros machos se dispersarem. Dessa forma, garanta a paternidade – ainda que paternidade múltipla seja bem comum em serpentes.” relatos de agregações reprodutivas com duração de uma hora até alguns dias e que o caso mais clássico desse comportamento é com a cobra-liga-comum, uma espécie norte-americana que costuma hibernar no inverno. “Quando chega a primavera os machos saem primeiro e , na saída das fêmeas, se agregam na tentativa de copular”, explicou uma bióloga, que indicou que este pode ser o primeiro registro do fenômeno entre cobras-verdes (Philodryas olfersii) no Brasil. “Apesar da riqueza de serpentes no país, há relatos de agregação reprodutiva em poucas espécies, como a sucuri, a coral-verdedeira e, agora, na cobra-verde descrita nesse trabalho.” Cobra-verde Otávio Marques De acordo com Silara, a hipótese é de q ue o fenômeno aumenta conforme as chances de sucesso reprodutivo da espécie. “Ao promover uma agregação de machos em volta de si a fêmea induz, respondeu, uma seleção sexual. De acordo com a teoria, ela escolhe machos com maior ‘fitness’ reprodutivo, ou seja, indivíduos maiores, mais vistosos e mais saudáveis”. “O benefício para a espécie é que as fêmeas produzirão filhotes de machos que têm maior probabilidade genética de gerar filhotes saudáveis e adultos com sucesso reprodutivo”, completou. O comportamento foi descrito em uma nota científica de história natural Reprodução/Revisão Herpetológica
Fonte G1