Na coluna Histórias Naturais desta semana, Luciano Lima conta sobre a origem deste traje natalino e mostra que é possível ter uma Árvore de Natal brasileiríssima Como a maioria das tradições associadas às festividades, é difícil traçar com precisão a origem do traje de se montar a Árvore de Natal. Bem antes de surgir o Cristianismo, em regiões de inverno mais rigorosas do Hemisfério Norte, já havia um simbolismo em decorar casas e quintais com árvores que não perdiam suas folhas durante o inverno. Acreditava-se que essas árvores traziam proteção contra bruxas, fantasmas e até mesmo doenças. Mas mesmo em regiões mais quentes, era um hábito comum associar plantas com rituais festivos próximos ao solstício de inverno, momento a partir de qual os dias começam a ficar mais longos. Lembrando que aqui no Hemisfério Sul acontece o contrário, já que o final de dezembro marca o solstício de verão, momento a partir de qual os dias começa a ficar mais curtos pelos próximos seis meses até a chegada do solstício de inverno onde temos o dia mais curto do ano. No Egito antigo, por exemplo para celebrar Rá, o deus do Sol, os egípcios decoravam suas casas com folhas de palmeiras verdes durante o solstício. Um ritual semelhante para marcar o solstício sofrido na Roma antiga, onde se decoravam as casas com galões verdes por conta da Saturnalia, que era uma grande festa em honra ao deus Saturno. Apesar dessas associações mais antigas entre plantas e celebrações de final de ano, as origens reais da Árvore de Natal como a comuns até hoje parecem ter suas raízes no território atual da Alemanha. Foi lá, durante a Idade Média, que as pessoas experimentaram a decorar com maçãs árvores que simbolizavam o Dia de Adão e Eva, que de acordo com a tradição católica era celebrada no dia 24 de dezembro. Com os passar dos anos, as chamadas “árvores do paraíso” foram cada vez mais enfeitadas até que por volta do séc. XVI se tornaram “árvores de natal” e adquiriram uma outra simbologia. Comentem interessante que por ser um traje que no começo era associado principalmente à Igreja Luterana (que surgiu na Alemanha), até não muito tempo atrás a Igreja Católica não estimulou a montagem das “árvores de natal”. pinheiro-bravo (Pinus pinaster) Nelson Antonio Leite Maciel Quando falamos em árvores de natal, muita gente logo pensa em pinheiros. E qual a origem dessa relação? Simples… Por essa tradição estar associada ao início do inverno, que na Europa costuma ser bem rigorosa, diferentes espécies de pinheiros são as únicas plantas que estão mais vistosas e com folhas verdes nessa época. São reconhecidas cerca de 615 espécies de coníferas no mundo. As coníferas são o grupo do qual fazem parte os pinheiros, ciprestes, sequóias, araucárias e outras plantas que possuem como característica comum o fato de agruparem suas sementes em estruturas reprodutivas chamadas de cones (ou pinhas, no caso dos pinheiros). Suas folhas geralmente possuem formato alongado, lembrando grandes agulhas, e são plantas que costumam se adaptar bem a locais de condições climáticas extremas, especialmente regiões frias. No Brasil, assim como em grande parte das regiões tropicais do planeta, a diversidade de coníferas não é muito grande, cerca de 10 espécies. As coníferas são um grupo ancestral de plantas. Surgiram há mais de 300 milhões de anos e durante muito tempo foram as plantas dominantes na Terra, inclusive durante a maior parte do reinado dos dinossauros. No entanto, há cerca de 70 milhões de anos, elas acreditam a perder espaço para um outro grupo de plantas que “inventou” uma grande novidade: flores (e por isso são chamadas de plantas com flores, tecnicamente classificadas como Angiospermas). araucária (Araucaria angustifolia) de Natal do Luciano Lima. Luciano Lima Embora não sejam tão comuns por aqui, umas das mais famosas árvores brasileiras (e uma das minhas preferidas) é uma conífera, a araucária, não por acaso, também conhecida como pinheiro-do-paraná. Já contei “causos” sobre a araucária aqui no Histórias Naturais e a Terra da Gente fez uma matéria especial sobre a espécie, que foi gravada, literalmente, aqui no quintal da minha casa. Mas além da araucária, existem outras coníferas no Brasil, os pinheiros-bravos. Apesar do nome, pelas folhas pequenas e sua estrutura, podem ser facilmente confundidas com uma árvore angiosperma. Os pinheiros-bravos também são conhecidos por outros nomes populares, como pinheirinho, pinheirinho-da-mata e atambuaçu, mas todas as espécies pertencem a um único gênero: Podocarpus. No Brasil são encontrados praticamente em todos os domínios naturais, sendo que Podocarpus lambertii é uma espécie relativamente comum em altitudes mais elevadas das montanhas da Mata Atlântica. Além da América Sul, diferentes espécies de podocarpus podem ser encontradas também na América Central, África, Ásia, Austrália e várias ilhas do Pacífico. Embora a princípio a distribuição do grupo continue muito ampla e sem nenhuma relação, ela guarda um padrão ancestral. Todas essas regiões faziam parte do supercontinente Gondwana, que começaram a se separar há cerca de 180 milhões de anos. Observe atentamente a natureza, muitas vezes é viajar no tempo sem sair do lugar. Histórias Naturais é a coluna semanal do biólogo Luciano Lima no Terra da Gente Arte/TG O Natal está chegando e, como qualquer outra data comemorativa, sempre procuro um motivo para celebrar a natureza brasileira. Aqui em casa já virou tradição montar a “araucária de natal” e depois começar o ano plantando-a no quintal. Mas além de montar a árvore também costumo fazer meu pedido para o Papai Noel (que no meu caso vem em um trenó puxado por cervos-do-pantanal). Qual o pedido? Já que no Natal as pessoas falam muito sobre o amor, eu quero que o país da biodiversidade, torne-se cada vez um país de pessoas apaixonadas pela biodiversidade. *Luciano Lima é biólogo e faz parte da equipe do Terra da Gente.
Fonte G1