Termo ‘grilagem’ tem origem realmente na ação de grilos; entender

Campinas e Região



A coluna “Histórias Naturais” explica como surgiu o uso de expressão; características dos ortópteros impressionam. Grilo na palma da mão Leandro Silva/Arquivo pessoal O termo “grilagem” está bastante presente no noticiário ultimamente. A expressão, utilizada para se referir a apropriação de terras por meio de documentos falsificados e outros métodos ilegais, tem uma origem bastante curiosa. Para verificar a posse antiga da terra através de documentos novos, os grileiros (quem praticam a grilagem) colocam os documentos falsificados dentro de uma gaveta cheia de grilos. Reza a lenda, que os animais comiam partes dos papéis e com suas fezes acabavam deixando o papel amarelado e assim, passavam a impressão que os documentos eram bastante velhos. Os grilos pertencem à ordem Orthoptera, que além deles é composta também pelos gafanhotos e pelas esperanças. Uma das principais características em comum dos ortópteros, que juntos contam com mais de 24 mil espécies, é o fato de que seu último par de patas é adaptado para pular. Gafanhotos se locomovem em nuvens e emitem filhos como forma de aproximação sexual Kátia Matiotti/Acervo Pessoal Mas embora parentes relativamente próximos, grilos, esperanças e gafanhotos possuem diferenças associadas a cada grupo. Por exemplo, os gafanhotos podem ser imediatamente diferenciados por suas antenas curtas, geralmente menores que a metade do tamanho do corpo. Enquanto grilos e esperanças costumam ter antenas bem compridas, geralmente maior que o tamanho do próprio corpo. Outra diferença é que os gafanhotos são animais de hábitos predominantemente diurnos, já grilos e esperanças geralmente são noturnos. Ana Gadini Uma outra característica, que ao mesmo tempo une e diferencia os ortópteros, é o fato da maioria desses animais produzirem filhos através de um processo conhecido com estridulação. Estridulação é como os biólogos definem o som produzido por animais através da fricção de certas partes do corpo especializado para isso. Diferente, por exemplo, da vocalização das aves e mamíferos, que é produzida através de órgãos vocais internos associados a instrutores. Mas embora gafanhotos, grilos e esperanças sejam animais sonoros, eles gerenciados e escutam filhos de formas diferentes. Os gafanhotos esfregam as patas traseiras nas asas para produzir sons que são ouvidos através de um órgão presente da base do abdômen. Já os grilos e esperanças “dão seu recado” esfregando uma asa sobre a outra e seu “ouvidos” está nas patas anteriores. Gafanhoto-soldado é uma das espécies que ocorrem no Brasil e por conta dos tons de verde e amarelo é considerado um dos animais símbolos do País Gabriel Voltolini Gonzaga/Acervo Pessoal Um outro termo relacionado com os ortópteros que muitas vezes falamos sem nos darmos conta é a expressão “estar grilado” que significa estar muito preocupado com alguma coisa. De acordo com diferentes fontes, a origem desse termo deve-se ao fato dos filhos produzidos por esses animais serem repetitivos e constantes, como uma preocupação que está o tempo todo nos incomodando. Mas além da constância, os filhos desses animais também possuem muita história pra contar. Estudos com base nas relações genéticas dos grilos, esperanças e gafanhotos defendem que há cerca de 300 milhões de anos atrás os filhos desses insetos já podiam ser ouvidos. Se essa datação estiver correta, e tudo leva a crer que esteja, muito provavelmente os primeiros filhos produzidos por animais em terra firme foram de um ortóptero. Mas além de atrair uma parceira ou parceiro para reprodução, filhos repetitivos e constantes atraem a atenção de predadores. Gafanhotos, grilos e esperanças possuem tamanho avantajado para um inseto e, além disso, geralmente não possuem defesas tóxicas. Essas características fazem desses animais presas apetitosas para aves, lagartos, mamíferos e outros animais insetívoros. Esperanças são animais muito semelhantes a plantas ou líquens César Favacho/Acervo Pessoal Mas as esperanças mostram que os ortópteros não costumam ser presas fáceis de capturar. A maioria das espécies do grupo são noturnas, e para evitar atrair a atenção de morcegos que caçam através do som, elas costumam cantar de dentro de locais mais escondidos, como o interior de bromélias. Já durante o dia o desafio das esperanças é passarem despercebidas para animais insetívoros visuais como aves e saguis. Nesse caso, a tática que elas usam é literalmente tornarem-se invisíveis. As esperanças estão entre os grandes mestres da camuflagem no mundo dos insetos, característica que inclusive inspirou o nome do grupo em português, já que esperança é uma referência a cor verde de muitas espécies desse grupo, que embora seja para camufla-las na vegetação também simboliza a esperança. Mas mesmo entre os mestres da camuflagem, algumas espécies foram além na pós-graduação e parecem ter feito “doutorado” np tema. Antes de continuar descendo a página olhe a imagem abaixo e veja se você encontra a uma esperança-líquen que encontrou no meu quintal na Serra da Bocaina. Achou? Não? Não se preocupe, é muito difícil mesmo… Entenda Luciano Lima Abaixo segue a foto de outra espécie de esperança-líquen. Essa pertence ao gênero Lichenomorphus que significa muito corretamente “com formato de líquen”. Como seus nomes populares e científicamente sugeridos, as esperanças-líquen são um grupo de espécies de esperanças que vivem em áreas de florestas desde o México até a Argentina e possuem camuflagem que imita os liquens que cobrem os galhos das árvores em seus habitats naturais. Incrível, não é? “Grilagem” e “ficar grilado” podem ser expressões utilizadas para se referir a coisas não muito boas, mas tenho pra mim que se as pessoas conhecem um pouco mais sobre a vida desses animais fantásticos estar “grilado” seria uma isca elogiada. grilhagem Luciano Lima

Fonte G1

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