No Ministério da Fazenda, Fernando Haddad, que quando ministro da Educação do primeiro governo Lula chamou a atenção do presidente recém-empossado. “Como é mesmo o nome daquele menino que está na Educação?” – perguntou Lula, um dia, a um dos seus assessores. E, em seguida, disse:
“Ele tem pinta de tucano, mas é um dos nossos”.
Haddad foi mantido no segundo governo Lula e no primeiro da presidente Dilma Rousseff. Ele e Lula nunca mais se separaram, nem mesmo quando Lula ficou 580 dias preso em Curitiba. Haddad visitou-o com regularidade e aceitou substituiu-lo como candidato a presidente mesmo sabendo que seria derrotado.
Nas eleições deste ano, foi para o contentamento como candidato ao governo de São Paulo, reduto bolsonarista. Poucos dentro do PT acreditaram na sua vitória. Mas mesmo derrotado, Haddad foi importante para que Lula colhesse ali uma boa safra de votos. Foi ele que trouxe Geraldo Alckmin para o lado de Lula.
O mercado financeiro, entidade sem rosto, mas dono de muitas vozes, não queria Haddad na Fazenda. E daí? Será ele. De resto, a Fazenda será só um dos braços do Ministério da Economia montado para deleite de Paulo Guedes. Planejamento e Indústria e Comércio serão os outros braços ainda desocupados.
Na chefia da Casa Civil, Rui Costa, governador da Bahia por oito anos, que se conformou em não ser candidato ao Senado para eleger seu sucessor e ampliar a votação de Lula no estado. Deu conta das duas tarefas. Só isso bastaria para que não ficasse ao Deus dará. Lula sabe ser grato aos que lhe prestam bons serviços.
É o caso de Flávio Dino (PSB), ex-governador do Maranhão, senador eleito, que será o próximo ministro da Justiça e Segurança Pública. Mas não só por isso. Professor de Direito Constitucional e ex-juiz federal, Dino tem trânsito livre no meio jurídico do país. Mais adiante, poderá ser ministro do Supremo Tribunal Federal.
O desafio de Dino é grande. Ele irá lidar com a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, como Polícias Militares subordinadas aos governadores, aparatos de segurança infiltrados de bolsonaristas raiz. Isso requer conhecimento, o que ele tem de sobra, pulso firme, o que não lhe falta, e muita habilidade.
Por ser unanimemente reconhecido como um político hábil, acima de qualquer suspeita, a ponto de merecer a confiança ao mesmo tempo de Lula e de Bolsonaro, é que José Múcio Monteiro Filho, ex-presidente do Tribunal de Contas da União e sem partido, assumirá o complicado Ministério da Defesa. Já foi menos.
Criada no governo Fernando Henrique Cardoso, a Defesa foi ocupada por uma série de civis até que Michel Temer, por fraqueza, nomeou um general para o cargo. Bolsonaro militarizou ainda mais o ministério, servindo-se dos seus titulares para tocar o horror no país com a ameaça permanente de um golpe.
O nome de Monteiro Filho foi bem aceito entre os militares. Ele convenceu Lula de que o melhor seria não inventar moda na hora de nomear os novos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica. A solução clássica é promover os oficiais mais antigos em cada uma das armas. E assim será.
A um amigo que lhe perguntou se o general que comandaria o Exército não é um bolsonarista de carteirinha, Monteiro Filho respondeu:
“E o que é que tem? Metade da minha família também é”.
Ex-ministro das Relações Exteriores de Dilma, Mauro Vieira voltará ao cargo. Tendo ocupado os postos mais importantes da diplomacia, ele, hoje, é embaixador do Brasil na Croácia, onde ainda se encontra. Por lá, não terá com quem comemorar sua promoção. Muito menos se o Brasil vencer o jogo de logo mais.