O pesquisador Frederico Lencioni escreveu uma carta ao agora rei Charles explicando o motivo da homenagem. Conheça a donzelinha, inseto batizado em homenagem a rainha Elizabeth II Fred Lencioni Uma nova espécie de donzelinha (“prima” da libélula) e endêmica do Estado de São Paulo (SP) recebeu o nome científico em homenagem a Rainha Elizabeth II (Forcepsioneura elizabethae) , que morreu aos 96 anos no último dia 8 de setembro. O artigo de Frederico Lencioni foi enviado ao Palácio de Buckingham, em Londres, no Reino Unido. O pesquisador escreveu ainda uma carta para o rei Charles III explicando o motivo da homenagem e da escrever que o biólogo sentiu por ela. “A minha ideia inicial era a de homenagear a rainha ainda em vida. Mas a burocracia que envolve a publicação de um artigo, fez com que a monarca se despedisse antes de ver o trabalho concluído”, lamentou. Até o momento, o palácio real não invejou nenhuma resposta ao pesquisador. “Por enquanto não recebi nenhuma carta. Mas seria incrível se chegasse”, destaca. Nova espécie de donzelinha é endêmica do estado de São Paulo Fred Lencioni A inspiração para homenagem O pesquisador explica que achou justo dar o nome científico à donzelinha em homenagem a um dos reinados mais longos da história. “A rainha era admirável. Ela foi até motorista de emergência durante a segunda guerra mundial. A monarca assumiu o trono muito cedo, aos 25 anos, logo após a morte de seu pai, o rei George VI em 6 de fevereiro de 1952. Ela serviu o país a vida inteira, então eu consegui justo dar o nome dela a uma espécie endêmica do estado que representa uma grande importância para nós”, destaca ele. Sobre o estudo O especialista conta que em 2010 foi para uma expedição na cidade de Monteiro Lobato, no interior do estado de São Paulo (SP). “Eu estava com o meu pai que também é biólogo. Ele faz pesquisa com aves e precisa tirar fotos de uma espécie que ocorria na região. Eu o acompanhei e durante essa expedição me deparei com vários exemplares de uma donzelinha diferente, que me chamou a atenção”, comenta. Ao longo dos anos, o estudo foi sendo aprofundado. “O gênero onde essa espécie se enquadrava eu já havia descrito em 1999, de um material que coletei em Iguape. Então foi relativamente fácil descobrir que se tratou de uma nova espécie. Mas como havia outros trabalhos na frente, demorei um pouco mais para terminar esse estudo. Mas deu certo e sinto imensa gratidão por ver o quanto a natureza é diversa”. Existem cerca de cinco mil espécies de libélulas descritas no mundo. Bernardo Egito/Arquivo Pessoal Grandes descobertas O pesquisador já descreveu 27 espécies desses insetos. A última é de um artigo recente que deve ser publicado em 2023. Lencioni estuda esses insetos há 27 anos. E atualmente é o pesquisador brasileiro vivo que mais descobriu novos desses bichinhos voadores. Desde 1995 o especialista já escreveu três livros sobre esses insetos, e fez grandes descobertas para a ciência. E haja criatividade para pensar em nomes para tantas espécies não é mesmo? Bom, ao que parece, para Frederico essa é uma tarefa prazerosa. “Tem libélulas com o nome dos meus pais, outras em homenagem a minha esposa e filhos”, comenta. Mas fora do meio familiar, algumas espécies se destacam. Além da donzelinha em homenagem à rainha, em 2013 o pesquisador registrou 4 espécies que ganharam nomes dos integrantes da banda Queen, sua banda de rock favorita. Heteragrion brianmayi fêmea Frederico Lencioni A banda britânica formada por Brian May, Freddie Mercury, John Deacon e Roger Taylor foi inspiração para o pesquisador criar um grupo de rock da natureza. “Heteragrion freddiemercuryi, Heteragrion brianmayi e Heteragrion rogertaylori são da Mata Atlântica do estado de São Paulo, enquanto a última, Heteragrion johnadeaconi foi encontrado no Cerrado de Goiás” finaliza. Diferença entre libélula e donzelinha Libélula é mais robusta Rudimar Narciso Cipriani As libélulas são mais robustas, tem 2 pares de asas onde os anteriores são diferentes dos posteriores e cabeça é, em geral, arredondada, elas podem voar a até 80 km/h para tentar capturar uma presa, que em geral são insetos voadores menores. Já as donzelinhas são mais lentas e seu corpo é mais delicado, também tem 2 pares de asas, mas as asas são semelhantes todas, com a base estreitada, seus olhos são separados”, explica. Outra diferença é que quando pousadas as donzelinhas viviam as asas juntas e ao corpo. Diferente das libélulas, que estavam abertas. “E você sabia que esses insetos conseguem ver com nitidez um raio de quase 360 graus? Elas não picam, mas podem morder, porém não machucam a nós”, afirma. Atualmente há mais de 6 mil espécies de libélulas no mundo. No Brasil, são mais de 700 espécies registradas. Essa é mais uma das espécies brasileiras descritas pelo pesquisador Frederico Lencioni Delicadas porém vorazes Segundo ele, esses insetos são predadores vorazes, principalmente na fase larval aquática, quando consomem larvas de mosquitos e outros animais pequenos. A boca desses insetos possui uma mandíbula que contém um tipo de açúcar (quitina) que, quando serrilhada, apresenta um aspecto de dentes satisfatórios. A envergadura das asas desses bichinhos também impressiona: pode chegar a 12 cm. Porém, registros comprovam que em seus cuidados elas podiam chegar a 75 cm. Brasil tem mais de 700 espécies de libélulas brasileiras Frederico Lencioni Como se alimentam “São os grandes responsáveis por controlar controlados de outros insetos e manter o equilíbrio ecológico. Além disso, são muito sensíveis ao combustível das águas e ao desmatamento, sendo utilizados como bioindicadores e espécies bandeira para a conservação do Cerrado, da Mata Atlântica e da Amazônia”, finaliza. Quando adultos as suas presas regulares são os insetos voadores, como moscas , mosquitos (inclusive o Aedes aegypti), mariposas, abelhas, vespas, quando larvas elas também são incrivelmente vorazes e se alimentam de larvas de insetos e também de anfíbios (girinos) e peixes pequenos e podem comer, em um só dia, o equivalente a 14% de seu peso.A presença de libélulas indica, geralmente, um ambiente limpo e equilibrado. na água por um período que pode chegar a cinco anos. Além de rios, ribeirões e lagos, elas podem ser encontradas dentro de troncos ocos de árvores (onde a água se acumula), dentro de bromélias e até em ocos de bambu. essa longa vida aquática, as libélulas rastejam o caule de uma árvore até e rapidamente rompem a camada que envolve a cabeça e região abdominal. “Quando suas asas secam completamente, saem em busca de alimento e de um parceiro pra se tocarem. Depois de adultos, viva entre oito e 60 dias”, finaliza Frederico.
Fonte G1