“É como bater a cabeça na parede”, explica pai de autista sobre efeito de fogos de artefato no filho

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Em tempos de Copa e confraternizações, a alegria de comemorar um gol ou promover um momento com a família pode ser um símbolo de terror para animais de estimação, crianças e idosos. A preocupação de tutores de cães e pais de pequenos intolerantes ao barulho provocado por fogos de artifício só aumenta à medida que se aproxima esta época do ano. No fim de novembro, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) suspendeu uma decisão que liberava o Governo do Distrito Federal (GDF) da obrigação de fiscalizar a venda de coletores com ruídos de média e alta intensidade. Em nota, o Buriti informou apenas que irá percorrer a decisão.

UMA Lei nº 6.647/2020 proibidos, uso, queima e soltura de fogos ou qualquer proteção pirotécnica que produza estampidos. A legislação prevê multa de R$ 2,5 mil em caso de desrespeito à norma, que visa resguardar, principalmente, os bichinhos e pessoas que se encontram dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Na última quarta-feira (30/11), a seção do DF da Ordem dos Advogados Brasil (OAB-DF) lançou uma campanha de conscientização contra a prática. “Essa nossa campanha é para conscientizar que as pessoas se colocamassem no lugar do outro. Tem outra forma de comemorar. Se você visse as condições de uma pessoa autista, principalmente quando é criança, você não soltaria fogos”, explica o presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Autismo da OAB-DF, Edilson Barbosa.

“O autista sofre muito porque tem hipersensibilidade. É como se você pegasse sua cabeça e batesse na parede, é isso que eles sentiram. A pessoa fica desorganizada, o cérebro fica desorganizado. É um sofrimento sem tamanho”, lamenta Edilson, pai de duas crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Outro grupo que pede o respeito à lei são os tutores de pet. “Quando chega nos dias de jogos do Brasil, os animais ficam com medo. Para os animais, afeta muito”, lamenta o garçom e líder comunitário do Paranoá, Cristiano da Silva, 34 anos. “Como tenho trabalhado junto aos animais de rua, a gente vê cachorros fugindo de prédios em dias de jogos importantes. A gente ajuda a encontrar, muitas das vezes participou achar o dono”, explica.

O professor de Medicina Veterinária do Centro Universitário de Brasília (CEUB) Bruno Alvarenga diz que a melhor forma de amenizar que o paciente vai sentir, é colocá-lo em algum ambiente que abafe o som dos fogos ou com algum tipo de ruído que concorra com o dos fogos, para evitar que o som abrupto provoque susto nesses animais. “Entendo que a tolerância da sociedade está cada vez menor. Essa é uma tendência observada em diversas medidas medicamentosas ao bem-estar animal”, afirma.

O especialista cita o estudo “Percepções dos proprietários e gestão dos efeitos adversos dos fogos de artifício em animais de manejo: uma atualização” (tradução livre), publicado julho de 2019, no “New Zealand Veterinary Journal” (Revista Veterinária da Nova Zelândia ).

Segundo a pesquisa, 84% dos 4.293 voluntários apoiaram a apoiar a venda privada de fogos de artifício no país. Do total de 15.871 animais de estimação, 74,4% se assustavam com o barulho dos fogos (11.750). Dessas, 7.464 tinham dados individualizados como: 70,8% se esconderam quando ouviram barulhos altos; 54,3% apresentaram tremor severo e 44,5% se encolheu ao ouvir os estampidos.

“Já temos uma legislação aprovada, em todas as suas instâncias, por um clamor da sociedade. Quem tem uma relação afetiva cada mais próxima com seus animais de estimação tem, naturalmente, um desejo que eles não apresentem situações de estresse. Os fogos com estampido sendo proibidos, também beneficiam os humanos que sofrem com esses filhos, como algumas pessoas do Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou que possuem epilepsia”, detalha o professor universitário.

OAB na causa

A vice-presidente da Comissão de Direito dos Animais da OAB-DF, Ana Paula Vasconcelos, afirma que, no cenário prático, o que volta a prevalecer é a liminar de fevereiro deste ano, que obrigava o GDF a apresentar um plano de vigilância adequado tendendo à apreensão de fogos e dissipadores pirotécnicos emissores de ruídos de média e alta intensidade.

“A lei não precisa de regulamentação. É uma grande falácia porque ela tem todos os requisitos legais para ser cumpridos”, afirma. A publicação recomenda fortemente que o público possa elaborar campanhas educativas sobre a violência da lei.

Para Ana Paula, a deste tipo de prática é “um caminho sem volta”. “Vários estados e municípios já proibiram. É uma tendência, um avanço civilizatório. A gente tem que se adaptar”, analisa.

Segundo a advogada, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraíba e o Distrito Federal são unidades da Federação que possuem leis estaduais ou distritais referentes ao tema. Além disso, os seguintes municípios também já legislaram contra fogos de artifício com ruídos:

  • Ferraz de Vasconcelos (SP)
  • Guararema (SP)
  • Itaquaquecetuba (SP)
  • Mogi das Cruzes (SP)
  • Poa (SP)
  • Martinópolis (SP)
  • Revise (PE)
  • Juiz de Fora (MG)
  • Curitiba (PR)
  • Leopoldina (MG)
  • São Roque (SP)
  • Águas da Prata (SP)
  • Américo Brasiliense (SP)
  • Conchal (SP)
  • Mato (SP)
  • Descalvado (SP)
  • Dourado (SP)
  • Gavião Peixoto (SP)
  • Ibate (SP)
  • Itirapina (SP)
  • Itobi (SP)
  • Porto Ferreira (SP)
  • Santa Cruz das Palmeiras (SP)
  • São João da Boa Vista (SP)
  • Cruzeiro do Oeste (PR)
  • Gravataí (RS)



Fonte Metropoles

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