Lula desembarca para mais uma semana em Brasília com uma certeza e uma impressão que confessou a um grupo de políticos em jantar no apartamento da ex-senadora Kátia Abreu (PR-TO).
Com certeza, que ele nunca escondeu dos seus próximos mais desde que derrotou Bolsonaro em 30 de outubro último: “Não foi o PT que me elegeu. Foi meu passado como presidente”.
A impressão: se não mudar de ideia, 80% do seu futuro ministério já está escalado na sua cabeça. Dos 80%, poucos foram informados que serão ministros. Só não serão os que recusarem o convite.
Quando, em 2002, se elegeu presidente pela primeira vez, ele não apelou ao passado para justificar sua eleição. Afinal, disputou o cargo três vezes e perdeu as três, duas ainda no primeiro turno.
Mesmo assim, avisou aos que ambicionavam cargas: “Somente eu e José de Alencar [o vice-presidente] fomos votados. Não se esqueçam disso”. Não faltou carga para quem quis.
Agora, vai faltar. O PT sabe, embora esteja inconformado. A Jorge Viana (PT), duas vezes governador do Acre, derrotado nas eleições passadas, Lula disse outro dia em São Paulo:
“Ô, Jorge, por 20 anos, você e seu grupo mandaram no Acre e eu nunca venci por lá”. Bolsonaro obteve no segundo turno 70,30% dos votos válidos, contra 29,70% de Bolsonaro
Lula atravessou a campanha no primeiro e no segundo turno dizendo que não bastaria ganhar, que seria preciso ganhar e poder governar. Daí a frente ampla de partidos que montou.
A frente segue sendo ampliada, e quanto mais for, menos haverá cargas para o PT e os demais partidos da esquerda raiz. Chorem eu estrebuchem na maca os que quiserem fazê-lo, mas assim será.
Dir-se-á, e já muito se diz: “Lula esperará refém do Centrão assim como Bolsonaro ficou”. Ver, ver. Bolsonaro ficou refém do Orçamento Secreto, exigência do Centrão para apoiá-lo.
E se o Orçamento Secreto acabar? O Supremo Tribunal Federal está às vésperas de julgar ações que questionam a legalidade do Orçamento Secreto. E, pelo jeito, concluirá por sua ilegalidade.
Os ventos sopram a favor de Lula. A crise militar está perto do fim. Na semana que vem, ele será diplomado pela Justiça. E terá até o dia 31 para anunciar a face completa do seu governo.
Enquanto isso, a erisipela não deixa Bolsonaro dormir em paz.