Silvio Sadi Tesche é acusado de ter feito injúria racial contra 2 funcionários de uma agência bancária em Campinas. Defesa diz que ‘fatos não ocorreram como noticiados’. Padre suspeito por suspeita de injúria racial em Campinas é investigado por 2 casos “Só de lembrar, meu coração fica palpitando”. O manobrista José Raimundo Araújo demonstra indignação e tristeza ao relatar que foi vítima de injúria racial atribuída ao padre Silvio Sadi Tesche, no ano passado. O sacerdote foi afastado na semana passada pela Arquidiocese de Campinas (SP). O padre é acusado pelo Ministério Público de ter honrado este crime contra duas pessoas e duas ações tramitam na Justiça desde junho. Ele atuava na Basílica do Carmo, região central da metrópole. ‘Sai da minha frente’ O caso judicial que envolve o manobrista de 57 anos foi em setembro do ano passado. À EPTV, afiliada da TV Globo, Araújo conto que trabalha no estacionamento de um banco e os clientes são orientados a deixar as chaves dos veículos com a equipe no período em que são atendidos na agência. Contudo, falou, o padre sempre demonstrou contrariedade à regra e, naquele dado, teria cometido agressão física e injúria racial depois que ele o abortou porque havia gritado com outra funcionária. “Eu pedi a chave e ele disse que não iria deixar. Expliquei que era norma do estacionamento, ele foi e bateu a mão no meu peito. ‘Sai da minha frente, seu macaco’. Nesse momento, eu fiquei nervoso, ele saiu da minha frente, eu segui ele explicou por que estava me tratando dessa maneira, e aí ele: ‘Por isso que eu não gosto de negro, seu petista filho da…”, relatado. O manobistra José Raimundo Araújo, em Campinas Reprodução/EPTV O manobrista considerou que a decisão da Arquidiocese foi correta para o acusado “não influenciou outros padres”. Além disso, ele afirmou esperar que o sacerdote afastado seja punido pela justiça. “Quero punição para ele. O que eu passei, não quero que ninguém mais passe por isso”, enfatizou. Inicialmente, Araújo não registrou o boletim de ocorrência, mas depois buscou apoio das autoridades após ser incentivado pelo gerente da unidade. A vice-presidente da Comissão de Igualdade da OAB-Campinas, Daniela Oliveira da Fonseca, explicou a importância do relato formal sobre o crime. “É extremamente importante não só para fins de identificação e sanção da pessoa, mas para fins estatísticos para a sociedade, para políticas públicas”, falou a advogada ao lembrar que ocorrência pode ser registrada inclusive por meio de delegacia eletrônica. LEIA TAMBÉM: Padre afastado por suspeita de injúria racial em Campinas teria xingado vítimas de ‘macaco’ e ‘negrinha’, diz MP Arquidiocese de Campinas padre distante investigado por injúria racial Compreender a diferença entre racismo e injúria racial Ofensas após intervenção Em 25 de outubro, diz a investigação, o padre voltou à agência bancária. Segundo o depoimento, a vítima se comprimiu e disse que não tinha aquela função. Apesar disso, diz uma denúncia do Ministério Público, a funcionária perguntou se o sacerdote precisava de ajuda, mas Tesche teria insistido para que pegasse o café na máquina. Em seguida, fez perguntas sobre a bebida que ela não soube responder e, por isso, a chamou de burra, contornou a vítima. No dia seguinte, o padre voltou a conversar com o gerente, mas o atendente informou que ela não poderia. De acordo com o relato, o homem começou a gritar e chamou a vítima de “neguinha” e “mula”. O gerente testemunhou as ofensas e explicou que também passou a ser agredida verbalmente. “Eu ouvi da minha mesa e intervi, pedindo para que ele saísse da agência. Nesse momento, ele começou a gritar comigo também, me chamando de ‘burra’, ‘incompetente’, ‘bossal'”, conto a vítima. Testemunhas afirmaram às autoridades policiais que ele era um cliente já conhecido por ser “estúpido e rude com todos”. As denúncias foram recebidas pela Justiça em junho. O que diz a defesa? A defesa do padre alegou que os fatos não ocorreram da forma como noticiados pela suposta vítima, mas que, “tendo em vista os princípios do contraditório, ampla defesa e devido processo legal, a defesa técnica e o acusado somente se manifestarão nos autos do processo”. Afastamento da igreja Diante da tramitação das denúncias na 1ª Vara Criminal, a Arquidiocese de Campinas decidiu afastar o padre. De acordo com a decisão, a medida busca “prevenir escândalos, proteger a liberdade das pessoas envolvidas e tutelar o curso da justiça”. Com o afastamento público, o sacerdote fica privado do exercício da ordem, cessando imediatamente quaisquer jurisdições e licenças para presidir ou administrar publicamente Sacramentos ou Sacramentais e exercer ofícios eclesiásticos. A Arquidiocese de Campinas determinou que o padre continuasse sendo assistido para seu sustento, recebendo uma remuneração mensal de dois salários mínimos – pouco mais de R$ 2,6 mil. No entanto, fica sob a responsabilidade dele os custos de defesa. Ainda de acordo com a Arquidiocese, o padre afastado deve “responder pessoalmente por seus atos no fórum eclesiástico e civil”.
Fonte G1