Campinas, 249 anos: conheça cinco fazendas que foram ‘engolidas’ pela expansão urbana da metrópole

Campinas e Região



Mesmo com toda a transformação ao longo dos anos, as áreas rurais da cidade ainda correspondem a 48,7% do território total. Veja histórias. Vista de Campinas EPTV/Reprodução Campinas (SP) é atualmente reconhecida por ser um pólo tecnológico, possuidora de universidades de renome internacional e ter uma economia voltada para serviços, com forte presença no setor industrial. Mas, até meados do século XX, era a agricultura que movia a metrópole. Nesta semana, a EPTV, afiliada da TV Globo, mostrou que as áreas rurais de Campinas correspondem a 48,7% do território total. Uma área de 389 km², de um total de 794 km², e que equivale a uma extensão maior capitais como Belo Horizonte, Porto Alegre ou Curitiba. MAIS SOBRE O ANIVERSÁRIO: Gráfico mostra que a população de Campinas cresceu e território ‘minguou’ ao longo da história; entenda Neste aniversário de 249 anos, o g1 Campinas percorreu a cidade para destacar remanescentes de cinco antigas fazendas que foram “engolidas” pelos bairros que se formaram ao longo dos anos, mas que ainda podem ser encontradas no meio da cidade. “O mundo rural tem um papel inestimável na constituição e no desenvolvimento da vida urbana de Campinas, infelizmente nos temos a tendência de separar essas duas dimensões, quando na verdade elas são profundamente integradas” comenta a historiadora Mirza Pellicciotta. Fazenda Mato Dentro Área do casarão no Parque Ecológico de Campinas Reprodução/EPTV Localizada no Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, a Fazenda Mato Dentro, segundo o processo de tombamento, nasceu em 1808 como desmembramento da antiga Sesmaria Engenho Mato Dentro e foi uma das principais produtores de cana-de-açúcar, e depois de café, de Campinas. Sua sede foi construída em 1817 e reformada em 1880, adquirindo o formato atual. Todo o complexo de edifícios foi tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico) e Condepacc (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas), esferas municipal e estadual de proteção ao patrimônio. Fica posicionado em uma parte mais elevada da propriedade. A fazenda sofreu desmembramentos com o passar do tempo, mas manteve a produção agrícola até a década de 1980 como fazenda experimental subordinada ao instituto Biológico e depois criada à Secretaria da Agricultura do Estado. Em 1987, foi criado o Parque Ecológico que recebeu projetos de restauro e estudos de paisagismo de Roberto Burle Marx. Ele é aberto ao público e possui quadras, pistas de corrida, playground, anfiteatro; apesar do antigo edifício da sede estar atualmente fechado, é possível percorrer a área do entorno da sede para observar o edifício principal em dois pavimentos e a tulha. Fazenda Roseira Sede da Fazenda Roseira Marcelo Gaudio A Fazenda Roseira, localizada no Residencial Parque da Fazenda, tem seu primeiro registro oficial no ano de 1850, após a promulgação da Lei de Terras, que regulamentou a posse de terras que até então eram concedidas pela coroa. Entre o fim do século XIX e início do XX, a propriedade foi modificando sua produção, ascendendo economicamente com o café, mas agregando a exploração de gestão de areia e barro, nas décadas de 1920 e 1930, e indústria cerâmica e gêneros hortifruti de abastecimento , entre 1940 e 1950. “Campinas nasceu, cresceu e se desenvolveu semper associado aos caminhos que cruzavam seu território e deram a esse território todas suas condições de desenvolvimento como espaço de abastecimento, depois como espaço de produção de gêneros diversos para atender mercados mais interiorizados como a região de Minas Gerais, e regiões internas do estado de São Paulo, Itu, Sorocaba, etc.”, fala Mirza. De acordo com a doutora em urbanismo Alessandra Ribeiro Martins, que estudau a propriedade em sua tese, a fazenda começa a sofrer mais impacto a partir da expansão da cidade para o sul do território com a construção da Rodovia Anhanguera em 1948. Atualmente, a Fazenda Roseira compreende 15,9 mil metros quadrados dentro de uma Área de Preservação Ambiental Permanente com nascentes e pequenos cursos d’água. Dentre as construções, ainda existem alguns galpões e a sede, construídos no final do XIX e reformada na década de 1920. O local é administrado pela Comunidade Jongo Dito Ribeiro, que criou um centro cultural de referência do Patrimônio Material e Imaterial da cultura negra, interativo -se no símbolo de busca de identidade pela população é um marco importante para os moradores dos bairros do entorno e dos descendentes dos antigos moradores. Fazenda Jambeiro Sede da Fazenda Jambeiro Marcelo Gaudio Localizada no Parque Jambeiro, uma propriedade que nasceu em 1854, atualmente, é um complexo de construções em ruínas em uma área completamente urbanizada que se acentuou a partir do adensamento populacional iniciado na década de 1980. Condição que resultou, inclusive, na demolição de edifícios já tombados do complexo, mesmo depois de já ter sido tombada pelo Condepacc em 1992. Encontra-se na área remanescentes da fazenda, como as ruínas da sede, com características estéticas de residenciais urbanas, e alguns outros edificios. É um local de potencial arqueológico que pode ajudar a compreender a vida rural da metrópole de fins do século XIX. “A inspiração francesa da sede da Fazenda Jambeiro, atesta as generalizações dos mesmos hábitos e influências, indicando-nos também que entre o universo rural e o universo urbano da elite campineira do século passado [XIX], haveria muitas concordâncias e aproximava, além de uma relativa integração do uso dos equipamentos públicos”, segundo Mirza Pellicciotta, no processo de tombamento no Condepacc. Além das ruínas, que a prefeitura cercou para evitar invasões, toda a área é utilizada como praça pública, com espaço para ginástica e pista de skate. Desde o ano de 2014, um grupo de moradoras de Campinas, preocupado com o destino do patrimônio, criou uma comunidade nas redes sociais que promove reuniões presenciais para discutir o destino da Fazenda Jambeiro. O debate chegou a ser levado para a Câmara Municipal, mas o momento desta reportagem nenhum projeto de requalificação foi feito. Casa Grande e Tulha ‘Casa Grande e Tulha’ Arquivo/ EPTV O local conhecido por Casa Grande e Tulha é o remanescente rural mais antigo do município e remonta o final do século XVIII. Está localizado na Vila Lemos, próximo aos estádios do Guarani e da Ponte Preta. A antiga fazenda teria surgido antes de o povoado ter se tornado uma vila em 1797 e por suas terras teria passado parte da Estrada dos Goyases e acesso sul dos tropeiros paulistas ao povoado que daria origem a Campinas. “Campinas começa com a passagem da Estrada dos Goyases principalmente oferecendo alimentos, cresce com a intensificação do movimento com a estrada que ligava Campinas a Itu”, fala Mirza. O local teve uma importante produção de cana-de-açúcar e depois café, mas foi impactado pelo crescimento da cidade ainda no século XIX com os primeiros planos de saneamento e expansão da zona urbana do município. Em ocorrência do grande número de fontes naturais, Francisco de Paula Sousa estudou a oferta de água entre os anos de 1876 e 1883 apresentando planos de uso para a cidade. A chácara foi sucessivamente partilhada em função da urbanização e especulação imobiliária que cresceu desde o final do século XIX. Por fim, a propriedade foi aguardada e, em 1928, teve suas terras loteadas pela prefeitura, que liberou a venda de terrenos que ampliaram as ruas centrais e o número de quadras. O conjunto projetado passou por estudos desde a década de 1970 e em 1986 foi tombado pelo Condephaat e, quatro anos depois, pelo Condepacc. Em 2011, o conjunto foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), tornando-se o segundo patrimônio de Campinas com tombamento na esfera nacional. Museu do Café (MUCA) Museu do Café em Campinas (SP) Edis Cruz Localizada no Largo do Café, no bairro do Taquaral, o último patrimônio ligado ao mundo rural campineiro desta lista tem como objetivo reunir parte da história da metrópole em uma réplica da antiga sede da Fazenda do Taquaral. Nos séculos XIX e início do XX, a propriedade se destacou pela produção de café, mas a partir da década de 1930, teve suas terras pouco a pouco sendo loteadas e urbanizadas até ser repassada para o município em 1990. Parte das terras da fazenda se Tornou-se o Parque Portugal em 1972, e outra parcela foi utilizada pelo Instituto Brasileiro do Café (IBC) para pesquisas agrícolas. O Largo do Café fica em uma área de 330 mil m² e abriga o Museu do Café, criado em 1996, com documentos e objetos que remontam até o século XVIII. Já a Casa de Vidro abriga o Museu da Cidade, com acervo sobre a história da metrópole. *Sob supervisão de Hélio Carvalho VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias da região no g1 Campinas

Fonte G1

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