Segundo o relatório, Medeiros teria feito um “erro de cálculo” no momento do pouso. “No que diz respeito ao perfil de aproximação para pouso, houve uma avaliação rigorosa acerca de parâmetros da operação da aeronave, uma vez que a perna do vento foi alongada em uma distância significativamente maior do que aquela esperada para uma aeronave de ‘Categoria de Performance B’ em procedimentos de pouso”, detalhe o documento.
A investigação do Cenipa terminou, ainda, que não houve falha mecânica durante o acidente, pois a aproximação da aeronave do solo “foi iniciada a uma distância significativamente maior do que aquela esperada” e “com uma separação em relação ao solo muito reduzida” – o que vai ao encontro da argumentação do advogado de Marília Mendonça.
Para Robson Cunha, advogado contratado pela família da rainha da sofrência, o “fator preponderante” para o acidente foi a colisão com cabos de energia. “O que ficou claro é que a aeronave não teve nenhuma falha mecânica. As opções e as decisões tomadas pelo piloto na ocasião não foram tidas como irregulares. Ainda que ele tenha mudado o plano de voo, estava dentro daquilo que é de possibilidade do piloto, então a gente vai agora para a questão do obstáculo”, pontuou Cunha, em conversa com a imprensa após deixar a sede do Cenipa, em Brasília. “O obstáculo hoje se mostra como preponderante para o acidente. A gente tem que entender se o obstáculo deveria, ou não, ser identificado”. adicionado.
No dia do acidente, o avião de Mendonça atingiu o cabo de uma torre de distribuição da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), numa linha de transmissão elétrica fora da zona de proteção do aeródromo local. “Uma vez que a linha de 69 kV encontrava-se fora dos limites de Zona de Proteção de Aeródromo (ZPA) pelo PBZPA, ela não se caracterizava como um obstáculo que poderia causar efeito adverso à segurança ou regularidade das operações aéreas”destaque o documento.
Por fim, o órgão reforçou que a investigação em torno do acidente de Marília não busca o “estabelecimento de culpa ou responsabilização” e nem mesmo a comprovação das causas do acidente. “Os relatórios finais propõem implementar medidas por meio de recomendações de segurança, buscando o aprimoramento da segurança de voo”, concluiu o Cenipa.
🚨CONFIRA: Laudo final da perícia do acidente de Marília Mendonça consta que não houve falha humana e nem falha mecânica. pic.twitter.com/769vDhbaFa
— Realidade Central (@centralreality) 15 de maio de 2023
Família se manifesta
Em conversa com o UOL Splash, João Gustavo, irmão da cantora sertaneja, revelou o porquê da ausência dos familiares da artista na leitura do laudo, em Brasília, nesta segunda (15). “Nada disso vai trazer a Marília, filha da Ruth, mãe do Leo e irmã do João Gustavo, de volta. Eu iria para Brasília junto com meu padrasto e o Robson (advogado), mas também tinha compromissos na faculdade. Decidimos deixar-lo nos representar”lamentou.
Robson, por sua vez, reforçou que, assim como o Cenipa, a mãe de Marília, Ruth Dias, não pretende “apontar culpados” pela tragédia. “A gente não está aqui na caça às bruxas. A posição dela sempre foi clara: nada disso aqui vai trazer a filha, a mãe do Léo de volta. O objetivo dela, o objetivo de todos, na verdade, é que situações que aconteceram como a da filha dela sejam evitadas para que mais nenhuma família passe pela dor da perda que eles passaram”finalizou.
Lembre-se do caso
Na sexta-feira, 5 de novembro de 2021, a cantora sertaneja Marília Mendonça faleceu aos 26 anos. A artista viajou num avião de pequeno porte junto de outras quatro pessoas, que caiu numa área de difícil acesso na Serra de Caratinga, em Minas Gerais. Marília Mendonça viajava para a cidade de Caratinga, onde se apresentaria no dia da tragédia. Além dela, o produtor Henrique Ribeiro, seu tio e assessor Abicieli Silveira Dias Filho e o piloto Geraldo Medeiros e o copiloto Tarciso Pessoa Viana também morreram.
De acordo com o médico-legista Thales Bittencourt de Barcelos, os ocupantes morreram com o choque do avião com o solo, já que bateram as cabeças e os corpos no impacto. Além disso, o médico disse que foram feitos exames extras com coletadas das vítimas e os resultados foram negativos no teste toxicológico e de teor alcoólico. Exames anatomopatológicos também foram feitos para detectar se as vítimas tinham alguma doença pré-existente que poderia ter interferido nas mortes, mas nada foi constatado. As mortes aconteceram depois que todos já estavam no chão.
O bimotor Beech Aircraft, da PEC Táxi Aéreo, de Goiás, prefixo PT-ONJ, com capacidade para seis passageiros, estava em situação regular e tinha autorização para fazer táxi aéreo, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
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