Pesquisadores descobrem duas espécies desses insetos em áreas pouco conhecidas da Mata Atlântica ricas em biodiversidade e que reforçam a importância de serem preservadas; Entenda a função deles na natureza. Cabeça da espécie nova (Neopericoma-bella), vista no microscópio. Danilo Cordeiro provavelmente, você já recebeu esses “discretos visitantes” com menos de 3 mm de comprimento, da família Psychodidae, e que já se sentiu “de casa” em nossos banheiros. Os “mosquitinhos-de-banheiro” encontraram nos ralos, condições evoluídas onde vivem na natureza. O ambiente é úmido e tem fartura de alimentos, no caso: gordura, restos de cabelo e pele morta do nosso corpo. “Eles se adaptaram aos nossos por banheiros causa do micro-habitat que esses encantamentos proporcionaram. As larvas desses mosquitinhos vivem em ambientes aquáticos, mas não são boas nadadoras. Por isso, permaneceram de um substrato onde podem se prender e caminhar por ali. Mas é necessária uma superfície que esteja constantemente molhada. Os ralos fornecem esse ambiente perfeito com matéria orgânica particulada”, explica o entomólogo Danilo Pacheco Cordeiro, do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA). Existem no mundo cerca de 2.500 espécies de Psychodidae, mas nem todas estão habituadas à vida na zona urbana, pelo contrário, a grande maioria é bem exigente em relação ao habitat. “Embora poucas espécies desses mosquitinhos se adaptaram bem a viver nas cidades, a grande maioria só é encontrada em ambientes naturais preservados, reproduzindo-se nas margens de riachos, dentro da água acumulada em bromélias e em diversos outros ambientes”, afirma Danilo. Por serem áreas exigentes que dependem de extremamente preservadas, os mosquitos são considerados como bioindicadores de qualidade para vida selvagem e cumprem funções importantes no meio ambiente. Um exemplo é a ciclagem de nutrientes, uma troca contínua de substâncias que acontece entre o solo e as plantas. “Eles conseguem se alimentar das partículas da matéria orgânica de animais e plantas quando estão se decompondo. Esses insetos dividem esse trabalho com as bactérias, fungos e outros microrganismos que também participam do processo. Por isso, eles ajudam no retorno desses nutrientes para o solo, ou para os substratos. Além disso, ajude a diminuir as expectativas de infecções”, diz o entomólogo. O Terra da Gente já mostrou que a limpeza do banheiro, já é suficiente para eliminar o “mosquitinho”. Novos mosquitinhos na Mata Atlântica Pesquisador Danilo Cordeiro coletando insetos. Gabriele Silva Pesquisadores descobrindo duas novas espécies de Psychodidae, insetos conhecidos como mosquitinhos-de-banheiro ou moscas-mariposas. Os insetos foram encontrados em um conjunto de montanhas do município de Conselheiro Pena, Leste de Minas Gerais. O estudo publicado em uma revista especializada da Nova Zelândia foi feito em uma região pouco conhecida da Mata Atlântica. O trabalho nomeou as espécies como Arisemus sinuosus, Neopericoma bela e atendido também um novo gênero, batizado de Neopericoma, já que uma das espécies não se encaixava em nenhum dos gêneros já conhecidos de Psychodidae. “Apesar de serem próximos com aqueles mosquitinhos-de-banheiro que vemos nas nossas casas, quando observamos essas novas espécies em microscópio, encontramos muitas diferenças, como formato das estruturas da cabeça e das asas, e também estruturas utilizadas na cópula, características usadas no reconhecimento das diferentes espécies”, comenta o entomólogo. Armadilha instalada em cima de córrego. Danilo Cordeiro A descoberta dessas espécies mostra a qualidade ambiental das montanhas onde foram encontradas. Áreas que não são protegidas e sofrem com ameaças constantes, principalmente de incêndios e licenciamento. “Conhecer essas espécies têm grande importância também pelas informações atribuídas, que ajudam a entender a biodiversidade de um determinado ambiente e guardam a história evolutiva desses insetos”, destaca Cordeiro. A Mata Atlântica é o bioma mais ocupado pelos seres humanos no Brasil e o primeiro a ser desbravado por pesquisador. Ainda assim, muitas áreas permanecem inexploradas até hoje. Esses estudos ajudaram com o conhecimento da biodiversidade dessas áreas e ajudam no estudo de medidas de proteção na região, como por exemplo, a possível criação de uma Unidade de Conservação.
Fonte G1