Responsável por 750 partos e 7 mil atendimentos por mês, hospital é referência para região, mas depósito de dívidas afeta serviço; 20 leitos de UTI Neonatal foram interditados por falta de profissionais. Área da Maternidade de Campinas Jonatan Morel / EPTV Responsável por cerca de 750 partos e 7 mil atendimentos por mês, 60% deles pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a Maternidade de Campinas (SP) acumulou nos últimos anos dívidas milionárias que viveram em xeque a instituição centenária. Atrasos de obrigações trabalhistas, tributárias e com fornecedores, que vão desde energia elétrica a medicamentos, aliado a falta de pagamentos de empréstimos com bancos e operadoras de saúde e queda nas receitas criaram um abismo financeiro que obrigou a administração atual a buscar uma recuperação judicial, processo em trâmite na 10ª Vara Cível de Campinas. Entenda o que é a recuperação judicial e como ela funciona Instituída no Brasil em 2005 pela lei 11.101, a recuperação judicial serve para evitar que uma empresa em dificuldade financeira feche as portas. É um processo por qual a companhia endividada consegue um prazo para continuar operando enquanto negocia com seus credores, sob mediação da Justiça. As dívidas ficam congeladas por 180 dias e a operação é mantida. Déficits milionários da Maternidade Considerando os déficits mentais com a folha e os pagamentos de dívidas, o endividamento projetado da Maternidade de Campinas apenas para o ano de 2022 chega a R$ 28,5 milhões. Somente da parte da tributação, as dívidas batem a casa dos R$ 56,7 milhões. Referência regional em UTI Neonatal, essencial no atendimento de gestações de alto risco, a Maternidade teve 20 dos 36 leitos interditados pela Prefeitura de Campinas por falta de médicos e outros profissionais. Dias antes da interdição, o hospital notificou um surto de diarreia na mesma UTI Neonatal, e três bebês entre os acometidos morreram – a causa dos óbitos ainda está em investigação, assim como o que teria provocado o surto. Veja os principais pontos do pedido de recuperação judicial O pedido cita que diante do acúmulo de dívidas ao longo de gestões anteriores e prejuízos recorrentes, mas não detalhe quando a instabilidade teve início; Ao apresentar as causas, destaca-se que a redução nos atendimentos eletivos no período da pandemia da Covid-19 afetou a receita antes de uma despesa crescente; As cirurgias eletivas, por exemplo, ficaram suspensas por meses e só foram retomadas em agosto de 2021, de forma gradativa; O hospital destaca que contratou consultoria especializada em janeiro de 2022 para sanar a crise; Destaca que o endividamento foi agravado pela queda brusca na receita em maio e junho do mesmo ano, com corte de R$ 500 mil de um convênio de saúde suplementar e R$ 800 mil do SUS – segundo a administração, as verbas dessas duas fontes representam 85,5% do faturamento do hospital; Além da queda na receita, a administração pontua que houve aumento nos acidentes (dissídio de 12%) – impacto de R$ 400 mil – e alta de custo em 10% dos principais reservatórios de serviço: segurança, alimentação e lavanderia – impacto de R $ 150 mil; O déficit operacional em 2022 é apontado como R$ 1,3 milhão por mês, sendo que chega a R$ 3 milhões em novembro e dezembro, por conta do 13º salário. Além disso, há um endividamento mensal de R$ 1,2 milhão entre parcelas de bancos, empréstimos com convênios, parcelamentos de fornecedores e pagamentos de processos cíveis e trabalhistas. Hospital Maternidade de Campinas Patrícia Teixeira/g1 Maternidade diz que crise é superável Operando no vermelho, a Maternidade reconhece uma dificuldade para contratar. O hospital questiona a relação dos óbitos com o surto de diarreia, mas admite o número baixo de profissionais médicos horizontaisistas (que fazem as visitas hospitalares) e de profissionais fisioterapeutas, o que motivou a interdição de 20 leitos. O que se sabe e que falta saber sobre a morte de bebês na Maternidade Entretanto, além de argumentar que a crise financeira dificulta novas contratações, também alega que os mesmos estão em falta no mercado. O hospital conta atualmente com 232 leitos, 977 funcionários e 552 médicos. Apesar do cenário caótico, a administração defende em seu pedido que a crise é superável, mas para isso “os pagamentos devem ser realizados dentro de um ambiente controlado, sem que atos de expropriação sejam realizados por um credor em detrimento da coletividade”. Críticas de mãe e protesto Mãe de bebê morto após surto de diarreia atendimento crítico da Maternidade de Campinas Mãe de um dos três bebês mortos após surto de diarreia na Maternidade, a dona de casa Ana Paula Santos tratou a morte do filho recém-nascido como falha médica, criticou o atendimento recebido e a estrutura da unidade. Ela falou sobre o caso pela primeira vez no sábado (25) – veja o vídeo acima. “É muita criança para pouco profissional. Minha revolta é que meu filho estava bem, perfeito. Houve esse caso de diarreia, infecção hospitalar, pode acontecer. Eu acredito que se tivesse profissional o tanto que tem que ter no hospital, meu filho estaria vivo . Atenção que ele precisou ter, ele não teve”, afirmou. No domingo (26), familiares e amigos de Emely Gabriela Bueno, uma jovem de 23 anos que morreu após realizar uma curetagem na Maternidade, protestaram em frente à unidade. Eles afirmam que houve negligência no atendimento. Já o hospital diz que apura a situação e que, por enquanto, não há manifestação de falha. A família de Emely registrou um boletim de ocorrência na data do falecimento, em 17 de fevereiro. O caso foi registrado como morte suspeita no 11º Distrito Policial (DP) e deve ser encaminhado ao 1º DP, que cobre a área do hospital. Presidente do Hospital Maternidade de Campinas, Marcos Miele da Ponte Johnny Inselsperger/EPTV VÍDEOS: Tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias da região no g1 Campinas
Fonte G1