O primeiro registro ocorreu em 2015 e anos depois espécie foi flagrada novamente; acredita-se que seja um indivíduo que se perdeu do bando durante a migração. Ave migratória aparece pela segunda vez no Brasil Sandro Paixão Imagina encontrar uma ave rara e migratória que até então só tinha um registro no Brasil em uma plataforma de observação de aves? Foi exatamente isso que aconteceu no último mês com o amante da natureza, Sandro Paixão. Ele conseguiu fotógrafos o pisa-n’água-de-pescoço-vermelho (Phalaropus lobatus), mas o encontro não foi ao acaso. “Há algum tempo vindo explorando áreas atraentes para aves limícolas, na região dos lagos do estado do Rio de Janeiro, principalmente, Cabo Frio e São Pedro da Aldeia, sempre na expectativa de encontrar aves migratórias mais difíceis de serem registradas por aqui. Então, quando se aumenta a frequência de observação de aves, espera-se obter melhores resultados e eu digo que esse registro é fruto da persistência na atividade de observação de aves, que faz parte da minha rotina”, conta. Ave sempre é vista entre outras espécies Sandro Paixão De acordo com ele, o primeiro encontro com o pisa-n’água-de-pescoço-vermelho foi no final de janeiro em uma área de salinas desativas, no município carioca de Cabo Frio. Ave estava em meio a um bando de outras espécies como garças-brancas-pequenas e grandes, pernilongos-de-costas-brancas e até mesmo o pisa-n’água mais comum. “Eu percebi que havia uma ave com plumagem distinta dos pisa-n’água e, então, foquei os registros nela. Estava distante e não gostava muito de voar. No mesmo local confirmei, com a ajuda da internet, que se tratou do pisa-n’água-de-pescoço-vermelho e fiquei bem feliz com isso”, relembra. No Wikiaves, plataforma digital que reúne registros de observadores de aves no Brasil, esse foi o segundo registro da espécie em território nacional, o primeiro também ocorreu na Região dos Lagos, em 2015. A partir do registro do Sandro, outros observadores foram até o local e também conseguimos flagrar a ave. Como observadores de aves e fotógrafo amador da vida selvagem, fico muito feliz em ter realizado esse raro registro no Brasil, confiante um pouco mais para o melhor conhecimento sobre a espécie e para a ciência Pisa-n’-água-de-pescoço-vermelho foi registrado na cidade de Cabo-Frio (RJ) Sandro Paixão O observador de aves seguidor procurando o pisa-n’água-de-pescoço-vermelho e quatro dias após o primeiro encontrado conseguiu garantir novos registros junto da filha, que compartilha a mesma paixão do pai. “Para mim este foi um registro bem diferente do gibão-de-couro com cores distintas e do bacurau-tesoura albino. Eu acredito que esse flagrante do pisa-n’água-de-pescoço-vermelho é mais especial para mim, pois representou um resultado de muita dedicação na observação de aves limícolas por mim, principalmente, nos últimos 2 anos. Então, foram muitos dias não vendo nada de novo e ainda assim mantendo a esperança de registrar novas espécies. Então, no final, todo esforço e dedicação valeram a pena”, finaliza. Pisa-n’água-de-pescoço-vermelho é original do Hemisfério Norte e mede cerca de 18 centímetros Guilherme Serpa Ave rara O pisa-n’água-de -pescoço-vermelho é uma ave migratória originária da América do Norte e da Eurásia. “Após a reprodução, a espécie migra para fugir do inverno do Norte em busca de corpos d’água hipersalínicos no continente ou no mar aberto, onde houver concentração de plâncton. Na América do Sul eles param na costa entre o Equador, Peru e norte do Chile. Outra área de invernada na costa sul da Argentina também abrigam temporariamente a espécie”, explicou o ornitólogo Guilherme Serpa que ajudou a escrever o artigo do primeiro registro da espécie no Brasil anos atrás e agora em fevereiro foi até a Região dos Lagos para encontrar o pisa-n’água-de-pescoço-vermelho “descoberto” por Sandro. O fato do Brasil não estar na rota migratória da ave explica a raridade desse encontro. “Provavelmente é um indivíduo v agante que se desprendeu do bando em sua rota de migração principal. As salinas da Região dos Lagos também oferecem os recursos alimentares que a espécie aprecia, favorecendo a utilização do local”, diz Serpa. O status do pisa-n’água-de-pescoço-vermelho é considerado “Pouco Preocupante” internacionalmente de acordo com a IUCN Na época da reprodução, a fêmea adquire uma pelagem no pescoço em tom de vermelho mais vivo Евгений Попов/INaturalist Uma curiosidade é que apesar do pisa-n’água-de-pescoço-vermelho ter dimorfismo sexual, ou seja, macho e fêmeas são diferentes, não é possível saber o sexo do indivíduo avistado no Brasil. “A fêmea durante a reprodução tem o pescoço castanho mais vivo e mais cinza na cabeça. No macho esse castanho é mais pálido e ele tem mais branco na cabeça. Mas o importante é que o indivíduo que apareceu em Cabo Frio apresenta o que mudanças de plumagem de descanso reprodutivo, não podendo se determinar o sexo, porque nesse período ambos ficam com as mesmas cores”, comenta Serpa Espera-se que ave conseguir migrar de volta para o Hemisfério Norte para o começo do período de reprodução.
Fonte G1