A obesidade é uma doença que afetou crianças, adolescentes, adultos e idosos do Distrito Federal, sendo as duas últimas faixas etárias as mais atingidas. Em 2021, 71,74% dos adultos estavam acima do peso ou obesos, contra 55,2% dos idosos. Entre os adolescentes, esse total chega a 36,84%, enquanto que entre crianças acima de 5 anos, 33,42%.
Os dados aparecem no último Boletim Informativo do Estado Nutricional no DF e foram gerados pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan). O levantamento é feito com base no Índice de Massa Corporea (IMC), sendo o sobrepeso considerado entre 25 a 29,9; ea obesidade, a partir de 30.
“O aumento do peso é um movimento que tem despertado em todo o Brasil. Como a obesidade é uma doença multifatorial, tem causas biológicas, como a má alimentação e o sedentarismo. Mas também tem causas relacionadas ao comportamento alimentar, questões psicológicas, endócrinas, genéticas, além das questões sociais, como o acesso ao sistema alimentar e renda”, elenca Carolina Rebelo Gama, gerente dos serviços de nutrição da Secretaria de Saúde.
Dayanne Nunes, secretária-executiva do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do DF, acredita que a tendência de crescimento da obesidade observada no DF e em grande parte do país, desperta um alerta sobre os perigos da obesidade.
“É importante ressaltar que o aumento da obesidade é mais grave entre as pessoas de menor renda e de baixa escolaridade, mas afeta todas as classes sociais, idades, gêneros e regiões. É um problema que se expressa em baixa qualidade de vida, doenças, dificuldades para o cotidiano de quem é afetado diretamente, para os familiares e para a sociedade de maneira geral”, diz ela.
Ela acrescenta que as doenças e complicações ocasionadas pela obesidade sobrecarregam cada vez mais os serviços de saúde, que muitas vezes não estão preparados para atender todas as demandas.
A alimentação comedida, com consumo de alimentos ultraprocessados e ricos em açúcar, é uma das causas mais associadas à obesidade. Contudo, Carolina destaca que as escolhas alimentares são seguras por um conjunto de fatores, como a falta de acesso a alimentos in natura e insegurança alimentar.
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“Se a pessoa mora em um bairro com mercados que só vendem alimentos industrializados, não tem uma feira livre, ela vai consumir o que tem. E o que a gente observa hoje é que as cadeias produtivas produziram muito para grandes multinacionais de alimentos. Quando a gente valoriza o produtor local, adquirindo produtos mais localmente, a gente tem uma tendência de ter uma alimentação mais saudável. Isso depende de políticas públicas que não envolvem só a saúde, mas também a agricultura e a educação”, explica uma nutricionista.
A auxiliar administrativa Vanessa Rodrigues, 33 anos, é alguém que não costumava ter bons hábitos alimentares. “Eu comia muitos alimentos ultraprocessados, fast-food, e acabava fazendo a maioria das refeições na rua, por ser mais viável e prático. A minha alimentação também não tinha verduras e legumes com frequência”, conta ela.
A obesidade, no entanto, também está relacionada ao problema de hipotireoidismo, que ela descobriu na adolescência. O sedentarismo somado às situações adversas são outros fatores que sentem para o aumento do peso. “Aos poucos, evolui para um quadro de obesidade grau 3. Eu não sei ponderar quantos quilos eu engordava em média por ano. Mas em abril de 2020 eu estava pesando mais de 126 quilos”, diz Vanessa.
Como consequência do sobrepeso, problemas no joelho, na coluna, além de um quadro de esteatose hepática sobreviveram. Quanto ao psicológico, Vanessa começou a desenvolver depressão, ansiedade, fobia social e cansaço generalizado.
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A auxiliar administrativa Vanessa Rodrigues, 33 anos, é alguém que não costumava ter bons hábitos alimentares e chegou a pesar 126 kg
Arquivo Pessoal
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Com histórico de diabetes e obesidade na família, a estudante Mariana Lopes, 13 anos, engordou cinco quilos durante a pandemia
Arquivo Pessoal
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A médica endocrinologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes do DF, Cejana Hamu, aponta que durante a pandemia da Covid-19 houve um aumento do sobrepeso. “As pessoas ficaram mais tempo em casa e praticaram menos atividades físicas. Além disso, como o teletrabalho se popularizou mais nesse período, elas puderam ter acesso fácil à comida. Muitos ficaram ansiosos e descontariam mais na comida”, contextualiza.
A estudante Mariana Lopes, 13 anos, engordou cerca de cinco quilos durante a pandemia. A mãe e contadora, Luciene Lopes, 45 anos, afirma que ela já era um bebê acima do peso e tinha histórico familiar de obesidade e diabetes.
“Ao longo que ela ia crescendo, engordava acima da média. A pandemia influenciou no peso porque antes ela fazia atividade física, tinha a escola, a educação física, era mais ativa, logo conseguiu manter o peso. Mas com a vinda da pandemia ela deu um salto”, explica Mariana.
Apesar de procurar controlar a alimentação e praticar atividades físicas, a luta de Mariana contra a balança é contínua. Além de se cansar rápido por conta do metabolismo lento, ela sofre bullying na escola. “Muitos a apelidam de ‘gordinha’, o que a deixa bem chateada. Hoje, ela está sendo seguida por uma equipe multiprofissional e está sustentada para manter o peso”, explica a mãe.
A professora do ensino fundamental Sandra Tavares, 60, também notou uma piora no quadro de obesidade com o avanço da idade, que coincidiu com a época da pandemia. “Eu sou filha de italiano, então sempre comi muito, principalmente massa, não conseguia parar. Como consequência eu só fui engordando. E na pandemia apareciam os efeitos disso, como pressão alta, gordura no fígado, pré-diabetes e colesterol alto. Tudo foi se agravando”, diz ela.
Desde então, Sandra começou a fazer dieta e tomar medicação. Mas quando ouviu que o tratamento não estava dando resultado ela optou por uma cirurgia bariátrica. “Eu fiz a cirurgia bariátrica e desde agosto de 2022 consegui emagrecer 18 quilos. Estou muito feliz com a minha mudança de vida”, concluiu.
ações de combate
A nutricionista Carolina Rebelo destaca que ações estão sendo iniciadas pela Secretaria de Saúde para reverter, ou pelo menos, estagnar o aumento da obesidade.
“Os profissionais das unidades básicas de saúde estão sendo orientados a gerar relatório sobre o estado de saúde de cada região administrativa. E a partir do resultado local, atividades assistenciais, envolvendo multiprofissionais, serão colocadas em prática para ajudar a reverter esse quadro. Além de ações intersetoriais com a educação, assistência social e agrícola”, explica ela.
A especialista ainda aponta que um protocolo de atendimento às pessoas com sobrepeso está sendo elaborado a fim de uniformizar as orientações de conduta dos doentes. Quanto ao acesso à alimentação saudável, algumas UBSs contam com hortas comunitárias, que podem oferecer verduras e legumes frescos à população.
Dayanne explica que o Sistema Único de Saúde (SUS) do DF possui ações voltadas para o cuidado da obesidade. Desde 2017, por exemplo, funciona o Centro Especializado em Diabetes, Obesidade e Hipertensão (CEDOH), destinado a oferecer atendimento especializado a pacientes portadores de doenças crônicas não transmissíveis. “A equipe multidisciplinar do centro desenvolve ferramentas e estratégias para o tratamento da obesidade com foco na mudança de estilo de vida”.
A médica Cejana Hamu ressalta que melhorar a qualidade do sono, praticar atividades físicas, ter uma alimentação saudável, rica em frutas e verduras, e cuidar dos problemas emocionais são as principais formas de prevenir o ganho de peso.
O post No DF, 71% dos adultos e 36% dos adolescentes estão acima do peso apareceu pela primeira vez no Metrópoles.