Registros de armadilhas fotográficas verificam a presença da espécie no bioma; A dificuldade de encontrar o animal na natureza desafia os biólogos. Até a publicação, a espécie era descrita para os biomas Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Pampa Instituto de Conservação de Animais Silvestres/Divulgação O Pantanal se tornou um bioma ainda mais diverso graças à descoberta da ocorrência de uma espécie brasileira para a região: parceiros do Instituto de Conservação de Animais Silvestres e do Projeto Tatu-Canastra descobrindo que o tatu-de-rabo-mole-grande (Cabassous tatouay) habita o bioma pantaneiro. Até a publicação, a espécie era descrita para os biomas Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Pampa. “Só existiam dois registros científicos publicados sobre a ocorrência do tatu no Mato Grosso do Sul e ambos indicavam áreas de Cerrado. Alguns pesquisadores citavam a presença da espécie no Pantanal, mas não tinha nenhuma imagem ou observação que comprovasse essa teoria”, conta Gabriel Massocato, biólogo do Projeto Tatu-Canastra e autor do artigo. O artigo foi publicado em dezembro de 2022 na revista científica Edentata, uma publicação do grupo de especialistas em tamanduás, preguiças e tatus da Comissão de Sobrevivência de Espécies da União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN) Para confirmar a presença da espécie no bioma foram mais de 10 anos de pesquisas, estimativas de registros feitos por armadilhas fotográficas e análises genéticas de indivíduos atropelados nas rodovias. “Fizemos um compilado de dados ao longo desses anos somando os cadáveres encontrados com os registros de câmera trap, os registros feitos por pesquisadores parceiros e as observações em campo”, diz. Exclusivo da América do Sul, o tatu-de-rabo-mole-grande ‘divide’ o gênero Cabassous com outras quatro espécies Instituto de Conservação de Animais Silvestres/Divulgação Foram percorridos mais de 16 mil milhas de áreas de savana e áreas inundadas para o levantamento dos dados. Os investigadores conseguiram 12 registros da espécie, sendo oito no Cerrado e quatro no Pantanal, nas cidades de Miranda (MS) e Aquidauana (MS). “As imagens são as principais provas da ocorrência do tatu na região. Conseguimos registros da espécie na borda do bioma, em áreas de transição com o Cerrado. Essas áreas são extremamente importantes para a conservação da fauna, justamente porque conectam dois biomas, ou seja, preservando a região nós garantimos a proteção de toda a biodiversidade local”, completa Massocato. Apesar da quantidade de material coletado, os especialistas lidaram com dois grandes desafios: a falta de dados sobre o padrão de atividades da espécie – que dificultava os encontros com o tatu na natureza; ea semelhança do animal com o tatu-de-rabo-mole-pequeno. “Eles são muito parecidos, então, quando não temos imagens de qualidade fica difícil identificar a espécie. Basicamente eles se diferenciam pelo tamanho corporal, tamanho das orelhas, quantidade e disposição das escamas na testa. Enquanto o tatu-de-rabo-mole grande mede cerca de 50 centímetros e apresenta menos de 50 escamas na cabeça, dispostos de forma regular, o tatu-de-rabo-mole-pequeno não ultrapassa os 33 centímetros e varia o número de escamas , podendo ter mais de 50”, detalha o biólogo e mestrando em ecologia e conservação na UFMS, Mateus Yan, que destaca a importância de levantar mais informações sobre a espécie. “Agora a dúvida é como ele está distribuído no bioma. Nos questionamos, por exemplo, se está restrito às áreas de transição, ou se ocupa outras regiões. Espero que essa descoberta instigue novas pesquisas sobre a população dos tatus no Pantanal”, diz. Os investigadores conseguiram 12 registros da espécie, sendo oito no Cerrado e quatro no Pantanal, nas cidades de Miranda (MS) e Aquidauana (MS) Instituto de Conservação de Animais Silvestres/Divulgação Tatu-de-rabo-mole-grande Ainda existem muitas dúvidas sobre os hábitos de vida, comportamentos e características do tatu-de-rabo-mole-grande, por isso, o animal é considerado uma das espécies de tatu menos conhecidas pela ciência. “Sabemos que são insetívoros especialistas: se alimentam de grupos específicos de insetos, principalmente cupins e formigas. Mas o padrão de atividade, por exemplo, ainda não foi controlado, ou seja, não sabemos se é um animal de hábitos diurnos ou noturnos”, reforça Mateus. “As poucas informações fornecidas sobre a espécie estão em pesquisas feitas sobre outros mamíferos. O tatu acaba entrando nas listas, mas sem ser o foco principal dos estudos”, diz. Exclusivo da América do Sul, o tatu-de-rabo-mole-grande ‘divide’ o gênero Cabassous com outras quatro espécies: tatu-de-rabo-mole-do-chaco, tatu-de-rabo-mole-pequeno da amazônia , tatu-de-rabo-mole-do-cerrado, tatu-de-rabo-mole-da-centroamerica. Nessa lista, o animal recém-descoberto para o Pantanal se destaca por ser o de maior tamanho. O nome popular das espécies do gênero indica não só o porte e a área de ocorrência, mas também destaca uma característica que todos têm em comum: a cauda de descoberta de escudos (os mesmos que formam as carapaças). Ao aproximar-se da imagem é possível observar a ausência de escudos na cauda Instituto de Conservação de Animais Silvestres/Divulgação “Sabemos, através das pesquisas, que o tatu-de-rabo-mole-pequeno passa a maior parte do dia embaixo da terra, saindo por apenas seis ou sete minutos à superfície para cavar um novo buraco. Esse comportamento faz com que a observação da espécie na natureza seja considerada rara, apesar de ocorrer com frequência em várias regiões do Brasil. A partir dessa referência, supomos que a dificuldade em encontrar o tatu-de-rabo-mole-grande pode ter a mesma causa, mas são necessários novos estudos para averiguar os hábitos da espécie”, finaliza Mateus. Fora do Brasil, o tatu-de-rabo-mole-grande ocorre na Argentina, no Uruguai e no Paraguai.
Fonte G1