Cerca de 54 mil endereços estão vazios, enquanto 40 mil famílias integram fila de espera para casa popular. A prefeitura alega que há incentivos para que os residentes sejam incluídos nesses programas. O número de imóveis desocupados em Campinas (SP) é 35% maior do que o de pessoas à espera de uma moradia pela Companhia de Habitação Popular da cidade (Cohab). É o que aponta um levantamento realizado pela EPTV, afiliada da Rede Globo, com dados do Censo Demográfico 2022. Terceiro mais populoso de São Paulo, o município tem 54 mil endereços vazios. Boa parte está localizada na região central e muitos estão há anos com placas de aluguel ou venda. Em contrapartida, o total de famílias cadastradas no programa habitação chega a 40 mil, mostra os dados. LEIA TAMBÉM: Censo do IBGE: confira população atualizada dos municípios da região de Campinas O Fabrício Gabriel Grigolin mora em um barraco na comunidade Rosaria. São quatro anos de cadastro sem perspectiva de um lugar melhor para viver. “Aqui em casa mora eu, minha esposa, meu filho e meu irmão. Desde então, a gente fez a inscrição na Cohab, só que a gente renova todo ano, mas nada correspondido, né?”, comenta. “A gente corre em busca, porque ninguém merece morar num barraco. Nós moramos porque a gente precisa, não tem condição de pagar um aluguel. Também é o sonho da Ana Paula Fernandes, que há 12 anos mantém o cadastro atualizado na esperança de ser chamada. “O atendido seria por situações mais críticas, por áreas que correm risco de desabar, ou de enchente. Então eu acredito que eles estão atendendo essa demanda porque assim foi nos passado. A prioridade seria para essas famílias”. Imóveis vazios x Déficit habitacional Campinas tem casas que estão há anos com placas de venda ou aluguel Reprodução/EPTV Enquanto novos projetos de casas populares não saem do papel, a metrópole vem há anos segurando imóveis vazios. Para Roberto Luiz do Carmo, professor do Departamento de Demografia da Unicamp, um projeto habitacional que aproveitasse as casas e apartamentos dessa área não resolveria todo o problema, mas ajudaria bastante. “Ao invés de construir grandes conjuntos habitacionais fora da cidade, distantes do centro, utilizar o próprio espaço do centro onde essa estrutura já existe. Existem muitas experiências fora do Brasil, na Europa e nos Estados Unidos, mostrando isso. É possível realizar esses projetos com uma característica mais de habitação social no centro da cidade”, explica. Quem passa por essas áreas aprova a ideia. “Acho que precisaria haver uma política pública municipal, para que esses imóveis não fossem fechados. Tem gente na rua, gente que não consegue pagar o aluguel”, comenta o aposentado Nélio Carvalho. “Podia ter alguma revitalização, [porque] tem muita gente vivendo em situação de rua ou gente que está em uma situação precária, área de risco. Acho que talvez o governo ou a prefeitura cheguessem a uma solução para esses locais que estão vazios”, diz a arqueóloga Janaína Coutinho. A iniciativa parece boa, mas sobram desafios. Uma das maiores dificuldades é convencer os donos dos prédios vazios a investirem na reocupação da área central. Apesar disso, a secretária de Planejamento e Urbanismo Carolina Bacarat diz que as vantagens propostas aos proprietários, como redução de impostos, já estão começando a movimentar essa iniciativa. “Já temos sete proprietários interessados. A lei traz um arcabouço de uma flexibilidade urbanística nos parâmetros, impressionante. Atrelado A isso, a isenção de IPTU. Eu vou reformar um prédio no médio, integral ou completo e a gente tem a estável de até 11 anos dependendo da reforma que por ter sido feita no edifício. Ainda segundo Carolina, os imóveis desocupados no centro podem e devem ser destinados também para moradias populares. “Então a gente vê uma iniciativa muito importante, não só para recuperar esses prédios que estão abandonados, mas também aqueles que já existem”, completa. Vista aérea da periferia de Campinas Reprodução/EPTV VÍDEOS: Tudo sobre Campinas e Região
Fonte G1