Você sabia que pererecas, rãs e sapos trocam de pele?

Campinas e Região



A substituição possibilita que os anfíbios cresçam, aumentem a proteção contra doenças, lesões e variações fisiológicas. Os animais eventualmente até comem o tecido trocado. Rãzinha-guarda (Elachistocleis piauiensis) trocando de pele, em Trairi (CE). Lucas Lima Bezerra Que alguns animais trocam de pele, como as serpentes, muita gente já sabe. Mas você sabia que esse comportamento também ocorre nos anfíbios? A ação, apesar de pouco explorada ao longo da literatura científica, é comum. “Existem trabalhos acadêmicos, de antes da década de 1930, que relatam que anfíbios fazem trocas cíclicas de pele, ou seja, sabemos há um tempo que os sapos, as pererecas, as rãs, as salamandras e até mesmo as cecílias fazem trocas de pele com alguma frequência, porém, não é algo fácil de se observar na natureza. Justamente por isso, poucas relações e poucos trabalhos foram pesquisados ​​sobre esse comportamento”, afirma o herpetólogo Lucas de Souza Almeida. Animais, de um modo geral, fazem a troca de pele e de seus anexos epidérmicos, como penas, espinhos e pelos. É uma prática natural, já que essa parte mais externa da pele é consertada por células mortas e que, eventualmente, precisam ser trocadas. Porém, “os interruptores e processos que envolvem a troca de pele nos animais, bem como a maneira como essa troca é dada, diferem entre os grupos e até mesmo entre espécies que possuem alguma proximidade ou parentesco”, comenta o biólogo formado pela UNESP de RioClaro (SP). Entre os anfíbios, as trocas de pele são cíclicas e acontecem de acordo com cada espécie. Pode ocorrer uma vez a cada semana, uma vez a cada 10 dias ou até mesmo uma vez por mês. “Esse tempo entre as mudas pode alterar também de acordo com as condições ambientais, dependendo da influência de fatores como a temperatura e a umidade, bem como podem variar de acordo com a saúde e a alimentação do indivíduo. Em algumas espécies, quanto menor a temperatura, maior o tempo entre as mudas de pele. Quando um indivíduo está se alimentando com maior frequência e, consequentemente, crescendo mais, a muda pode ser mais recorrente. Sendo assim, os ciclos de muda podem variar bastante, porém, o ato de trocar a pele possui uma curta duração, tendendo a não passar de algumas horas”, descreve. Nos anfíbios, a pele ainda possui uma outra função fundamental: a atleta. Diferentemente dos demais grupos de vertebrados terrestres, como os répteis, as aves e os mamíferos, os anfíbios possuem uma pele mais delgada, suas camadas externas são mais finas e, portanto, ela é mais permeável. Além disso, os anfíbios possuem uma pele muito vascularizada, e quando combinamos essas duas condições temos uma pele que consegue fazer trocas gasosas entre as células presentes na derme e no ambiente externo, e assim, esses animais conseguem respirar pela pele. Contudo, “para esse exercício ser mais eficiente, é preciso que esses animais estejam em ambientes adequados, com umidade, pois isso facilita a difusão dos gases. Outra maneira de se manterem com a pele umedecida é através das glândulas mucosas presentes na pele desses animais, na porção da derme, que interferem de forma constante uma camada fina de umidade sobre a pele, e é por conta dessa característica que vemos os anfíbios, de um modo geral, com a pele brilhante e umedecida. Ainda assim, essa necessidade por umidade é uma das restrições que restringem boa parte desses animais ao longo dos ambientes, existindo poucas espécies que tiveram, após evolutivos, acompanhamento comportamental, morfológico e fisiológico para se aventurarem em locais mais secos”, detalha Lucas. E depois se alimentando do tecido trocado. Lucas Lima Bezerra COMO AS TROCAS DE PELE OCORREM? Quando os anfíbios fazem a sua muda de pele, ou ecdise, existem alguns passos que o organismo executa para que a muda de pele seja concluída. Vale ressaltar que a ecdise ocorre apenas na epiderme. “Primeiro o estrato germinativo, que são células presentes na região mais interna da epiderme, produzem novas células que vão sendo posicionadas para a porção mais externa da pele. A produção dessas novas células originam camadas que, ao longo do tempo, amadurecem e vão perdendo seu núcleo e suas organelas, até que morrem, enquanto são enchidas com queratina. Para se livrarem desse antigo tecido morto e dar espaço à nova camada de células queratinizadas, os anfíbios usam seus membros, puxando a pele morta e eventualmente comendo esse tecido”, explica. “Há quem defende, que ao se alimentarem desse tecido, existe uma proteína de proteínas para esses animais”, completa. A troca de pele não afeta a capacidade respiratória dos anfíbios, pois a parte vascularizada, ou seja, com sangue e tecido vivo, que é onde as trocas gasosas ocorrem, fica ilesa. “Além disso, anfíbios não respiram apenas pela pele, muitas espécies possuem pulmões que auxiliam na manutenção da ginástica. Alguns inclusive, conseguem respirar através da boca e da faringe, também de forma auxiliar, ou mesmo pela cloaca”, fundamental. OUTRAS CURIOSIDADES Os anfíbios possuem na pele glândulas granulares, que de serem responsáveis ​​pela produção de veneno, também produziram uma série de antibióticos e fungicidas que, ao incorporarem à pele desses animais, os auxiliaram contra as disseminações, infestações e infecções causadas por parasitas, bactérias e fungos. Por conta dessa característica, os anfíbios são animais de muito interesse para pesquisas com a intenção de prospectar novos compostos úteis para a indústria farmacêutica. “Um exemplo é o composto denominado phylloseptina, que pode ser encontrado na pele de uma espécie, da ameaçada mata atlântica do sudeste brasileiro, conhecida popularmente por perereca-de-folhagem. Esse composto pode ser eficaz como antibiótico e sua eficácia contra células cancerosas, em iniciais, tem sido investigado”, exemplifica Lucas.

Fonte G1

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