Executivo começou a trabalhar aos 12 anos, na loja fundada pelos tios, no interior paulista, porque gostava de apresentar pessoas. Hoje, mantém esse hábito na gestão das quase 1,5 mil lojas espalhadas pelo Brasil. Nossas Mulheres: Luiza Helena Trajano comanda uma das maiores redes de varejo do Brasil Uma executiva avessa ao sossego, Luiza Helena Trajano, empresária que comanda o Magazine Luiza, tem a seguinte frase como uma das suas preferidas: “É na calmaria que mora o perigo .” Ela, que é inquieta e sensível desde sempre, começou cedo a pavimentar o caminho que, hoje, faz diferença na vida de tantas outras mulheres e também homens. Esta reportagem faz parte da série “Nossas Mulheres”, produzida pelo g1 em parceria com a EPTV, afiliada da TV Globo, em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres, comemorado em 8 de março. Ao longo do mês, toda quarta-feira, histórias de mulheres de destaque serão publicadas. Luiza Trajano, empresária presidente da rede varejista Magazine Luiza Reprodução/EPTV LEIA TAMBÉM Da corrida descalça nos canaviais aos pódios, Maria Zeferina Baldaia tem trajetória de superação e vitórias De sonho quase interrompido à seleção brasileira: aos 17 anos, Aline Gomes desponta com o atacante nos gramados Luiza Trajano Luiza nasceu em Franca (SP), interior de São Paulo, em uma família de comerciantes. Começou a trabalhar ainda adolescente, aos 12 anos, no magazine de apenas duas portas abertas pelos tios em 1957, no centro da cidade. A empresária conta que, na época, foi incentivada pela tia e pela mãe. “Eu gostava de dar presentes”, lembra. Foi naquele tempo que conheceu a empresária Eliane Sanches Querino, que também se recorda do conselho que a mãe de Luiza deu para a filha: “Ela disse ‘se você gosta tanto de dar presentes, vá trabalhar e ganhar o seu dinheiro”, conta a amiga. Hoje, as amigas de longa data são cofundadoras de um orgulho em comum: o grupo Mulheres do Brasil, que promove, sem fins lucrativos, o protagonismo feminino e defende a diversidade e a igualdade de chances entre gêneros e raças. A iniciativa é uma forma de tentar replicar o incentivo que Luiza teve no início da carreira. “Eu escutei poucos ‘nãos’ porque eu vim de uma família de mulheres empreendedoras”, conta. Mas essa família que Luiza e Eliane fundaram cresceu estrondosamente: o que começou com 40 executivos hoje conta com 110 mil mulheres em todo o mundo. O crescimento não fez Luiza esquecer das origens: a amiga e empresária Eliane conta que, inclusive, ela continua com a mania de dar presentes. Na rede varejista, um exemplo disso é o programa de bolsas de estudos que já beneficiou diversas pessoas. Telma Rodrigues, coordenadora do comitê de pessoas da Magazine Luiza Reprodução/EPTV Dando oportunidades A coordenadora do comitê de pessoas Telma Rodrigues conta que Luiza é uma referência. “Ela incentiva muito. Ela motiva a gente a buscar um caminho pessoal de autonomia, de muita responsabilidade. Então, ela é uma pessoa que sabe levar as pessoas mais longe”, afirma a coordenadora. E para garantir que as pessoas respirassem a oportunidade de irem mais longe, ambos criaram um programa que, desde 1992, oferece bolsas de estudos para funcionários sem exigir um comprometimento de ficar na empresa. Telma conta que não tem a menor ideia de quem fica e quem vai. “Não sei nem a estatística pra te dar, porque nós nunca controlamos isso”, diz. O importante é fazer a diferença na vida das pessoas como a analista administrativa Cleide Modesto, que começou na loja como vendedora e hoje já está na terceira faculdade. Começou com gestão de marketing, depois foi para gestão financeira e hoje curso serviço social. O filho também foi beneficiado. “Faz a diferença para mim estar estudando. Ganho eu, ganha o meu filho, ganha a família e ganha a empresa também”, garante um analista. Cleide Modesto, analista administrativa da rede varejista Magazine Luiza Reprodução/EPTV Assistente administrativo, Júlio César pensa em cursar tecnologia em segurança do trabalho. “Por vontade própria mesmo, por estar dentro desta área. Antes tarde do que nunca”, diz ele, que tem 38 anos. O gerente Carlos Henrique Teixeira conta que a filosofia da empresa foi tolerada para a sua carreira. “O que me atraiu foram os valores, coisas que compactuam com o que eu acredito”, conta. Ele é um dos que procuram seguir, à risca, o único mandamento da empresa: “faça aos outros o que você gostaria que fizesse a você”. Assistente administrativo da Magazine Luiza, Júlio César pratica o hobby de tocar piano na hora do almoço Reprodução /EPTV Aprendizado e cuidado Em 1991, Luiza assumiu o comando do magazine e começou uma mudança de maternidade que nunca terminou. Do Centro de Franca, a rede de varejo se tornou uma das maiores da América Latina: são cerca de 1,5 mil lojas em 819 municípios brasileiros, com um faturamento que gira em torno dos R$ 55 bilhões por ano. A rede é o local de trabalho de 42 mil funcionários de diversos estilos. Por duas vezes, a empresa foi eleita a melhor do Brasil para se trabalhar Boa parte dos colaboradores veem a Luiza como uma especialista, não apenas em comércio, mas também em cuidar de gente. “Acredito que a vida é uma espiral: você está sempre aprendendo”, conta Luiza. atendimento: com os clientes, ela aprendeu duas lições importantes que fazem toda a diferença nos negócios. “Empatia, que é você trocar de papel com o outro, no mundo do outro. E fazer perguntas. O meu QI é muito maior quando eu me abro pra ouvir os outros QIs”, afirma. Luíza Trajano, empresária presidente da rede varejista Magazine Luiza Reprodução/EPTV Sensibilidade nos negócios A sensibilidade de Luiza fez diferença nos negócios. “O mercado de gestão sempre foi muito mecânico. […] Era meio artificial”, afirma. Por isso, quando assumiu a liderança da empresa na década de 1990, a empresária fez questão de reescrever essa história. “Para você atender os clientes, as pessoas precisam ser verdadeiras”, diz. Essa gestão que ela descreve como “orgânica”, pautada pelo cuidado com clientes e funcionários, é um dos segredos do sucesso da rede varejista. Na pandemia, esse processo se mostrou ainda mais necessário. “Os funcionários só ficam quando têm um propósito maior”, garante. “As companhias trabalham o lado emocional do funcionário. Pós-pandemia, não tem uma grande companhia ou média que não teve que por ajuda psicológica”, afirma a empresária. Por sua vez, sensibilidade é algo que Luiza relaciona bastante com feminilidade, característica que ela sempre fez questão de preservar. “Eu nasci mulher e eu vim crescendo. Por que eu não poderia ter espaço?”, questiona. O trabalho feminino, para ela, é essencial nas empresas. “A mulher trabalha com mais sentido, ela trabalha com a intuição, com o espiritual”, afirma. Essas coisas fazem parte do seu dia a dia na liderança. No cotidiano, essas escolhas refletem até nas roupas. Até hoje, Luiza conta que não usa calça comprida para trabalhar. Não porque seja contra, mas porque vê nisso uma maneira de se reafirmar como mulher em posição de liderança. “A medida que eu assumi que eu era uma líder feminina em um mundo masculino foi muito mais importante pra mim”, conta. “Eu assumi uma posição que era verdadeira. Não preciso botar uma capa”, diz. Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e Franca VÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região
Fonte G1