São Paulo – A ação é toda orquestrada por presos do Primeiro Comando da Capital (PCC). Sempre em horário combinado, o “ninja externo” salta o muro do presídio, deixa uma bolsa e pula de volta o mais rápido possível. Lá dentro, os “ninjas internos” acolhem o material e correm para escondê-lo no pavilhão.
Usada por autoridades policiais, a expressão “ninjas do PCC” faz referência à forma que o grupo se reinventou para continuar levando, ilegalmente, drogas, celulares e até armas para dentro da cadeia, onde são consumidos e comercializados pelos presos.
Outra maneira de traficar o material para dentro da prisão é dividir a droga em pedaços, acomodá-las em bexigas e arremessá-las por cima do muro, segundo aponta investigação. Na linguagem do crime, a prática é chamada de “injetação” ou “injeção”.
No dia 26 de janeiro, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) condenou 15 pessoas por envolvimento no esquema do PCC. A sentença é resultado da Operação Ninjas, deflagrada em maio de 2021em ação conjunta que envolveu as Polícias Civil, Militar, Ministério Público (MPSP) e Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo (SEIVA).
Ação iniciada
A Operação Ninja mirou o tráfico de drogas dentro do Centro de Progressão Penitenciária Dr. Edgard Magalhães Noronha, o Pemano, localizado em Tremembé, no interior de São Paulo. A investigação começou a pedido do MPSP.
Os 16 pavilhões do Pemano são dominados pela maior facção paulista, de acordo com o inquérito obtido pelo Metrópoles. Segundo a investigação, a atuação dos “ninjas do PCC” foi a alternativa que o grupo encontrou para manter o tráfico vivo na unidade após um agente penitenciário, acusado de facilitar a entrada de drogas via Sedex, ser preso em fevereiro de 2021.
Responsável por pular o muro ou arremessar a droga, o “ninja externo” é contratado para realizar o serviço. O valor pago varia entre R$ 1,5 mil e R$ 4,5 mil por “injeção”, dependendo da quantidade de material que vai ser transportado para o presídio.
Já o “ninja interno”, que deve se acomodar e repassar a droga para que outros presos façam a distribuição no pavilhão, recebe R$ 500.
A operação é iniciada com antecipação, com dia e combinado por chamada ou chamadas de vídeo realizadas de dentro do presídio.
Na ação dos “ninjas”, as drogas são organizadas em bexigas de diferentes núcleos. Maconha vai no balão azul. Cocaína, no branco. Skank, não preto. E assim por diante.
Líder foi condenado a 62 anos
A ação judicial considerou episódios registrados entre janeiro e maio de 2021. No Pemano, o detento Wesley César da Silva Branquini, o “Malboro” ou “Oito Letras”, liderança do PCC, é apontado como o chefe do tráfico.
Condenado a 62 anos e seis meses de prisão pelo esquema, ele alegou em juízo ser faxineiro do pavilhão dois e contestou a prática do crime ou vínculo com a facção.
A considerar tem como base, no entanto, relato de testemunhas protegidas e informações obtidas por interceptação telefônica. Em uma delas, transcreve no processo, o preso foi flagrado na seguinte conversa.
“Malboro avisa que a hora que for montar uma bolsa que finja mandar alguém acompanhar. (…) Que lá em princípio só terá os telefones e que as drogas chegarão depois. Que a caminhada terá de ser feita no sábado ou domingo, e que não poderá ser no plantão do ‘Seu Ernesto’, que ele é bico sujo, que poderá ser na sexta ou domingo”.
Entre os condenados, também estão duas mulheres, apontadas como responsáveis financeiras do PCC. Com elas, os investigadores encontraram cadernos com contabilidade do tráfico, balança e bexigas para embalar drogas. Elas também negam a participação.
Durante a investigação, foram compreendidos mais de 70 quilos de drogas e 130 celulares. Os envolvidos foram condenados por crimes de organização criminosa, tráfico de drogas e introdução de celulares em presídio, com penas a partir de 10 anos de prisão.