São Paulo, Brasil
CNN
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Um senador brasileiro disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro participou de uma reunião em dezembro para anular os resultados das eleições presidenciais de 2022 no Brasil, que concederam ao atual líder Luiz Inácio Lula da Silva a presidência.
O senador Marcos do Val disse em entrevista coletiva na quinta-feira que ele e Bolsonaro estiveram presentes em uma discussão privada em 9 de dezembro organizada pelo aliado de Bolsonaro e então deputado Daniel Silveira.
Segundo o relato de Val, Silveira propôs um plano para desacreditar a recente eleição, sugerindo que Val marque e grave secretamente uma reunião com o presidente da Justiça Eleitoral e desembargador do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.
Do Val disse que foi orientado a incitar o juiz a dizer coisas que levantassem dúvidas sobre a validade do voto e a neutralidade da Justiça Eleitoral.
Ele também divulgou screenshots de suas mensagens de WhatsApp com Silveira sobre a reunião e o plano.
Ao descrever papel de Bolsonaro na conversa, do Val disse que o presidente se manteve omisso sobre a proposta, e não a desencorajou. Ele disse ter a impressão de que houve um acordo.
Do Val disse: “Foi o Daniel (Silveira) quem falou. Eu disse que pensaria sobre isso mais tarde e faria contato.”
“Ficou muito claro que ele tinha condições de manipular e fazer (Bolsonaro) comprar a ideia dele, caso um senador aceitasse a missão”, disse ainda do Val.
A equipe jurídica de Silveira não respondeu ao pedido de comentário da CNN.
Segundo do Val, ele acabou se encontrando com de Moraes no dia 14 de dezembro, mas em vez de registrar o encontro, alertou o juiz sobre a trama. De Moraes não comentou publicamente.
Na quinta-feira, de Moraes, responsável pela investigação em andamento sobre os distúrbios de 8 de janeiro, ordenou que Val deponha à Polícia Federal em cinco dias, segundo documento do Supremo Tribunal Federal.
Do Val disse ainda que Silveira lhe disse que o plano envolve também o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela segurança do presidente. O GSI forneceria agentes secretos e dispositivos de gravação para Do Val.
A Agência de Inteligência do Brasil, que comanda o GSI, negou na quinta-feira, dizendo que “absolutamente não está envolvida em nenhuma iniciativa relacionada à possibilidade de gravar conversas de ministros do Supremo Tribunal Federal”.
O gabinete de Bolsonaro não respondeu ao pedido de comentário da CNN. Reagindo às reivindicações de Val durante sessão do Senado na quinta-feira, o filho do ex-presidente, senador Flavio Bolsonaro, disse: “esclarecimentos precisam ser feitos para que as narrativas não superem os fatos”.
“O fato é que no dia 31 de dezembro o presidente Bolsonaro deixou a presidência”, acrescentou.
Lula ganhou por pouco a presidência brasileira em uma votação de segundo turno em outubro, mas muitos dos apoiadores de Bolsonaro se recusaram a aceitar os resultados, seu desafio culminou em um ataque a prédios do governo em Brasília em 8 de janeiro.
O próprio Bolsonaro não reconheceu publicamente os resultados da eleição até 30 de dezembro.
Silveira, ex-policial cujo mandato no Congresso terminou nesta semana, foi preso na quinta-feira por acusações não relacionadas, depois de supostamente descumprir ordens judiciais e adulterar seu monitor eletrônico de tornozelo – resultado de uma condenação de 2021 por atos antidemocráticos.