Gavião-papa-gafanhoto é fotografado pela primeira vez em Campinas (SP)

Campinas e Região



Registro foi considerado inadimplente para a região em plataforma de observadores de aves; flagrante é raro, porque ave é migratória e não costuma passar pelo sudeste do Brasil; Primeiro registro do gavião-papa-gafanhoto em Campinas (de acordo com o WikiAves) aconteceu no Parque Taquarsal Vlademir Barbosa A natureza presenteia quem se faz presente. Seja no meio de uma floresta, nas ruas de uma selva de pedra, em campos, parques ou até mesmo no jardim de casa: quem fica atento acaba sempre admirando uma avenida, encontrando com um inseto diferente ou até mesmo observando pequenos répteis, anfíbios e aracnídeos. E são esses encontros que às vezes raridades aparecem. O engenheiro de controle e automação Vlademir Dias Barbosa, de 45 anos, começou a fotografar a fauna há seis meses e recentemente foi envolvido com uma aparição “especial”. “Sempre gostei da natureza, mas passei a entender a importância de contemplar a criação como forma de desacelerar o ritmo de vida. começando a observar as aves dos parques e praças próximas à minha casa, mas após conhecer o WikiAves comecei a fotografar e gravar a vocalização das aves com o celular mesmo. Agora tenho uma câmera amadora, que não tem um custo tão alto e me atende perfeitamente”, conta. Aos poucos ele foi explorando outros locais, como no início de dezembro quando dirigiu até a Lagoa do Taquaral, em Campinas, na expectativa de flagrar uma águia-pescadora (Pandion haliaetus) depois da indicação de outros observadores de aves. A águia-pescadora também é conhecida como gaivotão, pé-de-gancho, pata-de-anzol, gavião-tarrafeiro, gavião-tarrafa, gavião-pescador, águia-tarrafeira, águia-de-rio, guincho, águia-peixeira e águia-pesqueira, gavião-caipira. Vlademir Barbosa “Fui bem cedinho e inicialmente não tive sucesso, mas lá por voltas das 10h, quase desistindo, consegui avistar a águia. Foi incrível! Gigante e imponente, ave se preparava para um mergulho em busca de alimento”, relembra entusiasmado. O observador conta ainda que logo em seguida conseguiu registrar a ave pegando uma tilápia e também ela descansando no topo de um eucalipto com a presa nas garras. “Pensei: estou pleno, agora me realizei! Não havia nada maior que fazer uma foto de qualidade de uma majestosa águia prestes a se alimentar. Mas o melhor ainda estava por vir”. Ao tirar mais fotos da águia voando, Vlademir ouve outra espécie planejando no céu. “Não sabia o que era, minha inexperiência não permitia a identificação, mas registrei mesmo assim e quis não dar tanta importância, afinal estava atônito com a pescadora”. Só que ao voltar para a casa e publicar o registro em uma plataforma de ciência cidadã a surpresa veio: “Era um gavião-papa-gafanhoto! Confesso que no início não dei muito crédito, eu nem sabia que espécie a existia. Mas depois de toda contribuição de especialistas e amigos que confirmaram a identificação, eu entendi que não havia nenhum registro dessa ave em nossa região. Fiquei em êxtase, muito feliz! Foi um achado grande para um iniciante, um momento raro na vida de qualquer observador”, comemora Vlademir. O gavião-papa-gafanhoto é uma ave da América do Norte Matthew Wills/INaturalist Gavião papa-gafanhoto (Buteo swainsoni) Tem ave que não gosta do inverno e prefere “viajar” nas férias para lugares mais quentes. É exatamente o que acontece com o gavião papa-gafanhato (Buteo swainsoni). “É um gavião raro aqui no Brasil, porque ele é um migrante que vem da América do Norte para a América do Sul, viajando através da América Central, passando pela Amazônia, mas o destino final da maioria desses gaviões é o Centro-Leste da Argentina. Alguns poucos indivíduos param em território brasileiro, mas mais no Sul do país”, explica o especialista em aves de rapina Willian Menq. De acordo com ele, o gavião papa-gafanhoto se reproduz na América do Norte e vem para o Sul para ter os filhotes, normalmente chegando entre o final de setembro e o início de outubro. Apesar disso, os picos de observação da espécie no Brasil são entre novembro e dezembro. Interessante é que tem alguns pontos aqui do nosso país, no oeste do Mato Grosso do Sul e no oeste e sudoeste da Amazônia, que durante a migração dessa espécie é possível avistar bandos de centenas a milhares de indivíduos voadores. Uma verdadeira nuvem de papa-gafanhotos no céu, mas não é o caso de São Paulo, que está fora da rota principal de voo dentro de migração. O pesquisador afirma ainda que o baixo número de registros dessa espécie de gavião em plataformas de ciência cidadã no Brasil se deve também ao fato de ser difícil de identificar a ave. Entenda a diferença entre as três espécies que são facilmente confundidas Arte TG “É uma ave que pode passar batida pelos observadores de aves, porque não é uma ave de fácil identificação. É uma espécie facilmente confundida com gavião-de-rabo-branco (Geranoaetus albicaudatus) e com o gavião-de-cauda-curta (Buteo brachyurus). Então às vezes um observador de aves não muito experiente pode ver esse gavião voando planando no céu da cidade e não dá muita bola achando que é uma espécie mais comum”. A dificuldade na identificação ocorre principalmente pela variação na plumagem do papa-gafanhoto. O adulto pode ter uma plumagem mais clara, mais marrom ou até mais escura. “A melhor maneira de identificar é se atentar aos detalhes. O formato da silhueta, os desenhos da plumagem e as marcas no ventre”, cita Menq. As variações na pelagem dificultam a identificação do gavião-papa-gafanhoto Alan Burger/INaturalist Por que papa-gafanhoto? Sim, o gavião-papa-gafanhoto se alimenta de gafanhotos, mas não para por aí. É uma ave com uma dieta extremamente variada. “A dieta dele varia sazonalmente. Na América do Norte no período reprodutivo ele vem pequenos mamíferos, roedores, também se alimenta de pequenas aves, insetos e lagartos. Agora aqui na América do Sul, a dieta dele é apreciada principalmente de insetos. Gafanhotos, besouros, mariposas, borboletas e se tenham oportunidade até pequenos vertebrados”, diz. De acordo com o pesquisador, apesar do papa-gafanhoto ser uma ave de hábitos gregos, no Brasil geralmente é registrado sozinho. “Provavelmente são jovens errantes, que às vezes fogem um pouquinho da rota principal de voo. Não dá para saber ao certo, mas é a principal suspeita”.

Fonte G1

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