O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discutirá com o presidente argentino, Alberto Fernández, a criação de uma moeda sul-americana comum. A ideia foi exposta pelos chefes de estado em um artigo assinado por dois publicada no site argentino Perfil, neste domingo (22/1).
“Decidimos avançar nas discussões sobre uma moeda sul-americana comum que pode ser usada tanto para fluxos financeiros quanto comerciais, de atendimento a custos operacionais e de nossa vulnerabilidade externa”, diz um trecho do artigo. (Leia o texto completo no fim da matéria)
A criação de uma moeda comum para ser usada pelos países vizinhos é ventilada como uma forma de fortalecer a integração dos países que compõem o bloco econômico do Mercosul.
Com apenas três dias de governo Lula, o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, já havia falado que os dois governos estudavam criar uma moeda comum. Segundo explicou Scioli, o projeto não excluiria as outras moedas em circulação nos países do continente.
Viagem à Argentina
Lula embarcou no final da tarde deste domingo rumo ao país vizinho. No roteiro, estão previstos visitas oficiais de Lula também ao presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou.
Conforme a coluna do Igor Gadelha, do Metrópoles, o encontro de Lula com Fernández terá como pauta a cooperação nas áreas de saúde, soberania energética, integração financeira, ciência e tecnologia. A expectativa é de que os dois países assinem um acordo de cooperação técnica envolvendo a região da Antártida.
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Ainda em solo argentino, Lula assistirá a um concerto musical com artistas argentinos e brasileiros no Centro Cultural Krichner. O presidente também participará da 7ª Cúpula de Chefas e Chefes de Estado da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
Leia a íntegra do artigo assinado por Lula e Fernández:
“Relacionamento da aliança estratégica entre Argentina e Brasil
Alberto Fernández e Luiz Inácio Lula da Silva
Duas nações irmãs se encontram novamente. amanhã [22.jan] nos encontraremos em Buenos Aires para o 1º encontro presidencial entre Brasil e Argentina em mais de 3 anos. Em seguida, será realizada a 7ª Cúpula da Celac, fórum que reúne os 33 países da região da América Latina e Caribe e que, desde o ano passado, está sob a presidência da Argentina. O evento marcará o retorno do Brasil a esse mecanismo de diálogo e consulta regional. Uma relação que nunca deveria ter sido interrompida e que a história da irmandade latino-americana consegue retomar.
Ambos os encontros marcam um novo começo, justamente no ano em que celebraremos o bicentenário de nossas relações diplomáticas. Em Buenos Aires vamos relançar uma aliança estratégica bilateral com a reativação de vários espaços de cooperação e diálogo. São múltiplas as áreas em que voltaremos a trabalhar juntos em temas importantes para a qualidade de vida de nossos pobres, como combate à fome e à pobreza, saúde, educação, desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas e redução de todas as formas de desigualdade. De uma vez por todas, a história será escrita por nossos povos.
Vamos fortalecer o papel da sociedade civil, dos governos estadual e municipal e dos parlamentos como atores dessa aproximação. Sabemos que o sonho de estarmos unidos é agora uma realidade possível.
Os laços entre Argentina e Brasil são baseados na consolidação da paz e da democracia. Queremos a democracia para sempre. Ditadura nunca mais.
A reindustrialização de nossas economias merecerá atenção especial, com geração de empregos de qualidade e investimento em inovação. O comércio entre Argentina e Brasil já tem alta participação de produtos industrializados em setores estratégicos. A integração entre nossas cadeias produtivas ajuda a mitigar choques externos, como os ocorridos durante uma pandemia. Não podemos depender de fornecedores externos para podermos ter acesso a insumos e bens essenciais ao bem-estar das nossas populações.
Temos um setor privado dinâmico e empreendedor, cuja contribuição para o processo de integração bilateral é cada vez mais necessária. Compartilhamos a firme intenção de estreitar os já sólidos laços comerciais e de investimentos entre nossos países e promoveremos um seminário empresarial no âmbito da visita presidencial.
Nossos países continuarão a desempenhar um papel crítico para a segurança alimentar em um mundo afetado por riscos geopolíticos e graves contínuos nas cadeias de abastecimento. Temos o compromisso de dotar a nossa agricultura e pecuária de altos padrões de sustentabilidade e de manter altos níveis de inflação.
Queremos promover projetos na área das infraestruturas. Um tema central deste novo momento é a integração energética. A interligação elétrica entre os nossos países já é uma realidade e a integração do gás tem potencial para se tornar um dos projetos estratégicos da relação bilateral, com resultados duradouros ao nível da atração de investimento, criação de emprego e ao nível da nossa segurança.
Consolidaremos nossa posição como possuidores de tecnologia nuclear para fins pacíficos, fortalecendo a Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares e dando continuidade a projetos planejados como o reator multiuso. Com a reativação do Grupo de Trabalho Conjunto de Cooperação Espacial, vamos colocar satélites em órbita para realizar estudos costeiros e oceanográficos.
A relação fluida e dinâmica entre Brasil e Argentina é essencial para o avanço da integração regional. Junto com nossos parceiros, queremos que o Mercosul constitua uma plataforma para nossa efetiva integração com o mundo, por meio da negociação conjunta de acordos comerciais equilibrados que respondam aos nossos objetivos estratégicos de desenvolvimento.
Pretendemos quebrar as barreiras em nossas trocas, simplificar e modernizar as regras e incentivar o uso de moedas locais. Também discutimos adiante nas discussões sobre moeda uma sul-americana comum que pode ser usada tanto para fluxos financeiros quanto comerciais, custos operacionais operacionais e nossa vulnerabilidade externa. “Trabalharemos juntos para resgatar e atualizar a Unasul, com base em seu inegável legado de conquistas. Argentina e Brasil estão firmemente comprometidos em construir uma América do Sul forte, democrática, estável e sobrevivente. Precisamos enfrentar um mundo cada vez mais complexo e desafiador e temos ampla convergência na agenda multilateral. Falta uma vontade política efetiva para enfrentar os dilemas atuais e as grandes crises: mudanças climáticas, pandemias, guerras, fome e imigração. A ONU e o G20 devem ajudar a preencher essa lacuna de liderança para provocar mudanças. Ambos os fóruns podem promover agendas inclusivas, sinalizando claramente a atuação de organizações como a OMC, o FMI e o Banco Mundial.
Trabalharemos em colaboração pela paz e pelo desenvolvimento.
O mundo mais justo e solidário a que aspiramos só será viável se tivermos coragem de construir juntos o nosso futuro. Esse é o significado estratégico da integração bilateral.
Não há nada mais emancipador do que a irmandade dos povos que vêm desde o alvorecer da nossa história para tomar posse do seu futuro.”