À saída de uma reunião no Palácio do Planalto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, o ministro José Múcio Monteiro, da Defesa, classificou os episódios de politização dos militares como “página virada”. E disse: “Temos que pensar para a frente e governar”.
Os militares não olham para frente quando chamam de revolução democrática o golpe de 64 aplicado a pretexto de salvar o Brasil do comunismo. Não olham para frente negam que a tortura e o assassinato dos adversários do regime autoritário foi uma política de Estado aprovada pelos generais-presidentes.
Não olhe para a frente para esconder documentos que permitiriam elucidar o caso de desaparecidos durante a ditadura. E muito menos olhar para frente quando justificar a hospedagem de golpistas à porta dos quartéis como respeito ao direito que eles tinham de expressar livremente seu pensamento.
Em todas essas ocasiões, e em outras tantas, eles só olham para trás e não reconhecem os graves erros cometidos. Sobre o mais recente deles, o apoio velado à intentona de 8 de janeiro de 2023, por ora silenciam. Admitem punir aqueles da ativa ou da reserva que se envolveram com a tentativa falhada de golpe, mas é só.
Se não querem ou se não são capazes de refletir sobre seu comportamento aqui, quem garante que até doravante procederão de outra forma? A democracia, restaurada há 38 anos, passou por seu mais duro teste e sobreviveu com louvor, mas não foi com a ajuda dos fardados, foi apesar da omissão deles.
Civis militarizados advertem que as Forças Armadas devem ser preservadas como instituição, separando-as dos maus elementos que as mancharam. E recomendam ao novo governo que adotem uma política de pacificação. Por acaso, tem alguma voz respeitável que pregue o desmonte das Forças Armadas?
Enquanto falam, defendem que as Forças Armadas se limitam a exercer seu papel estabelecido na Constituição. Elas existem para proteger o país de ataques externos. Não são o Poder Moderador, mas um órgão de Estado. A República só existe de três Poderes, e elas não são um deles. Inaceitável que queiram titular do Poder Civil.
Ainda bem que há generais como Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, o comandante militar do Sudeste, um dos três mais antigos oficiais generais do Alto Comando do Exército. Em discurso à sua tropa na última quarta-feira, entre outras coisas ele ensinou:
“Vamos continuar garantindo a nossa democracia, porque a democracia concedeu liberdade e garantias individuais e públicas. E é o regime do povo, de alternância de poder. E, quando a gente vota, tem de acompanhar o resultado da urna.
Sem anistia para os malfeitores, mas isso só não basta.