UMA Restaurardona das marcas de moda de luxo Le Lis (antiga Le Lis Blanc), Dudalina, Bo.Bô e John John está recebendo uma nova roupagem.
A empresa anunciou, nesta semana, um aporte de R$ 100 milhões, recursos que devem financiar uma mudança na estratégia de vendas e troca de nome do grupo, que passará a se chamar Veste. O “rebatismo” também alcança as ações da empresa na bolsa, cujo código passará a ser VEST3.
Toda a mudança está liderando sob a batuta de Daniel Vorcaro, sócio do Banco Máxima e principal investidor da gestora WTN Capital, que hoje detém 56% das ações da Veste. Boa parte do aumento de capital de R$ 100 milhões deve sair do bolso da gestora, o que ampliará a participação de Vorcaro no negócio.
O banqueiro, de 38 anos, socorreu o grupo Restoque em um momento delicado. Em 2020, a empresa acumulou dívidas de R$ 1,8 bilhão, o que representou quase nove vezes a sua geração de caixa. Grosso modo, isso significava que ela teria que operar por nove anos sem custo algum para conseguir pagar seus débitos, algo impossível para qualquer negócio.
Sem saída, a Restoque pediu recuperação judicial e chamou os seus credores para negociar. A essa altura, a gestora de Vorcaro e a própria Máxima já eram os principais donos dos papéis de dívidas da empresa e fizeram uma proposta para converter esses débitos em ações do grupo. De forma resumida, foi assim que Vorcaro chegou ao controle das marcas de moda.
Esse tipo de operação não é incomum no mercado e é terreno conhecido para o banqueiro. Ressuscitar empresas à beira do precipício tem sido uma marca registrada de Daniel Vorcaro.
Vocaro e o banco Master
O empresário era sócio minoritário do então chamado banco Máxima em 2016, ano em que a instituição financeira ficou perto de quebrar. Impactado por uma crise de inadimplência em sua carteira de crédito imobiliário, o banco quase zerou seu indicador de recursos próprios, medido pelo índice de Basiléia.
Vorcaro e outros sócios fizeram aportes para tirar o Máxima do buraco, ganharam espaço na sociedade e, a partir daí, fizeram uma mudança completa na estratégia da empresa.
A saga começou pela diversificação da carteira, movendo a concentração dos contratos de financiamento de imóveis e trazendo outras frentes de receita, como o crédito consignado. Curiosamente, assim como ocorre no processo de reformulação da Restoque (agora Veste), o Máxima recebeu um novo nome e passou a se chamar o Banco Master.
O outro ponto comum entre o Máxima e o Veste é a mão de Vorcaro sobre a mudança de estratégia de negócios. Da mesma forma que o Master buscou renovar as receitas buscando outras áreas de atuação, os R$ 100 milhões aportados na antiga Restoque financiarão investimentos em vendas digitais e em reformas das lojas físicas.
O objetivo, segundo os novos gestores da Veste, é, primeiro, otimizar o espaços físicos – as lojas da Le Lis são conhecidas por ocupar espaços grandes, comparáveis somente com os de lojas de departamento, como C&A e Renner.
A reforma na Le Lis do shopping JK Iguatemi, em São Paulo, deixou a loja para um terço do tamanho que ocupava anteriormente. Mesmo assim, o faturamento teria 20%. Dado o bom resultado, outras 60 lojas devem passar pelo enxugamento ao longo do ano que vem.
Outro destino dos R$ 100 milhões seria a aposta em estratégia digital. Sob a batuta de Vorcaro, o antigo Restoque viu a proporção das vendas online saltarem de 5% para 20% do total. O plano é aumentar ainda mais esse número.
Próximo alvo
O socorro ao grupo de moda de luxo não deve ser o último da carreira do banqueiro. Recentemente, a WTN Capital, de Vorcaro, comprou 10% da Westwing, plataforma digital de venda de móveis e decoração. Com isso, ele assume o posto de segundo maior sócio da plataforma, com possibilidade de escalar para o topo.
A empresa faz parte do grupo de negócios em apuros: com um custo elevado e receitas que não deslancham, pois as ações da Westwing já caíram 90% na Bolsa de Valores. A plataforma abriu capital no mercado em 2020 e atraiu mais de R$ 1 bilhão, com suas ações avaliadas em R$ 11. Na última sexta-feira, cada ação da Westwing valia R$ 1.