A nova presidente do Peru, Dina Boluarte, nomeou, neste sábado (10/12), seu gabinete enquanto protestos se avolumam em todo o país para exigir eleições gerais antecipadas após a deposição do ex-presidente Pedro Castillo.
Boluarte tomou posse na quarta-feira, horas depois de Castillo ser deposto pelo Congresso e preso preventivamente por rebelião e conspiração, por ter tentado dissolver o Legislativo para impedir o andamento de um processo de impeachment contra ele.
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Ela nomeou 16 ministros, dos quais oito são mulheres, em uma cerimônia no palácio presidencial, após três dias de sucesso com os partidos da direita que controlam o Congresso. Os aliados de esquerda recusaram-se a participar das conversas. Boa parte dos novos ministros tem um perfil técnico, sem vinculação a partidos.
Assim como Castillo, Boluarte também não tem apoio suficiente no Congresso. Ambos foram expulsos em janeiro do partido de esquerda pelo qual foram eleitos em 2021.
Castillo foi acusado por crimes de rebelião e conspiração, punidos com penas de 10 a 20 anos, e está preso preventivamente na Direção de Operações Especiais (Diroes), onde também está detido o ex-presidente Alberto Fujimori, que comandou o Peru de 1990 a 2000 sob um regime autoritário.
novo gabinete
O novo primeiro-ministro, Pedro Miguel Angulo Arana, é um ex-promotor especializado em combate à corrupção, que concorreu a presidente em 2021 mas teve uma candidatura julgada improcedente, e crítico contumaz de Castillo.
Para o Ministério da Economia, Boluarte nomeou Alex Contreras, que já havia sido vice-ministro da mesma pasta e é um funcionário público de carreira considerado pró-mercado.
Os químicos químicos Oscar Vera será ministro de Energia e Minas, um posto-chave para o país produtor de cobre. Ela também nomeou a diplomata Ana Cecilia Gervasi como ministra das Relações Exteriores.
Boluarte, uma advogada de 60 anos, é a primeira mulher a presidir o país e permanecerá no cargo até 2026 se não for convocadas eleições antecipadas.
Protesto
Manifestantes encorajaram que o país realize novas eleições gerais, em vez de permitir que Boluarte termine a obrigatoriedade de Castillo, e pedem também que uma nova Constituição seja redigida.
Os protestos são alimentados pela alta rejeição ao Congresso. Uma pesquisa realizada em novembro permitiu que 86% dos peruanos desaprovassem a legislatura atual.
“O Congresso nos chutou e fez pouco caso do voto. Vamos ir às ruas, não vamos aceitar sermos governados por este Congresso mafioso”, afirmou Mauro Sanchez, que vem participando de manifestações em Lima.
Imagens da televisão local apreciavam protestos em algumas cidades e um bloqueio em um trecho da rodovia principal que margeia a costa peruana, a cerca de 300 km ao sul de Lima, onde Castillo é mais bem aprovado.
Centenas de pessoas se manifestaram em Lima na sexta-feira pedido a libertação de Castillo. Um novo protesto foi convocado em Lima para a noite de sábado.
Neste sábado, Boluarte escreveu no Twitter que um confronto na noite de sexta-feira entre manifestantes e forças de segurança feriu oito pessoas, quatro das quais testemunhas, acrescentando que sete pessoas foram presas. “Respeito, diálogo e tolerância são essenciais na democracia”, escreveu.
Ela também disse na sexta-feira que estava disposta a discutir a antecipação das eleições, mas que por ora rejeitava apoiar a redação de uma nova Constituição.
Omar Coronel, um professor de ciência política da Pontifícia Universidade Católica do Peru, disse à agência de notícias Associated Press que uma questão central do governo de Boluarte será a necessidade de gerar ondas de descontentamento popular e construir uma coalizão no Congresso que a apoie e ao mesmo tempo não seja considerado uma “aberração” pela esquerda.
O Peru vive desde 2016 uma sequência de crises políticas, com Congresso e presidentes em confronto. O presidente Martin Vizcarra, que governa o país de 2018 a 2020, dissolveu o Congresso em 2019 e determinou a realização de novas eleições. A nova Legislatura, então, destituiu Vizcarra do cargo no ano seguinte.
Em seguida veio o presidente Manuel Merino, que durou menos de uma semana antes de uma violenta repressão a protestos matar dois manifestantes e ferir mais de 200 pessoas. Seu sucessor, Francisco Sagasti, durou nove meses antes de Castillo assumir o poder.