‘Evitáveis’, mortes por trombose atendidas 34% em Campinas na pandemia

Campinas e Região



A Rede Mário Gatti iniciou neste mês a aplicação de anticoagulantes nas UPAs como protocolo de prevenção. A partir de 2023, a medida será adotada também em hospitais. Trombose causa dor e inchaço nas pernas Reprodução /TV Globo Dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas (SP) apontam uma alta de 34% nas mortes ocorridas por causa de trombose venosa durante uma pandemia. São óbitos evitáveis, uma vez que ocorre o quadro de entupimento nas veias e artérias, em 60% dos casos, durante períodos de internação hospitalar, segundo a Rede Mário Gatti. Por conta disso, a administração iniciada este mês uma campanha para adoção de um protocolo de prevenção nos hospitais e em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs): a aplicação de anticoagulante em pacientes com classificação de alto risco para trombose logo no momento da internação para reduzir como “mortes evitáveis”. A preocupação com a trombose também motivou, em setembro, a criação do 1º Centro de Doenças Tromboembólicas do Brasi, coordenado pela Unicamp. A previsão é observar e analisar dados de mais de 20 mil pacientes para auxiliar na redução das mortes. Nos anos de 2020, 2021 e 2022 – até início de novembro – foram computados 47 óbitos na metrópole, com uma tendência de alta considerando os dois últimos anos, segundo levantamento feito pela Rede Mário Gatti a pedido do g1. Os três anos anteriores somaram 35 ocorrências – veja detalhes no gráfico abaixo. Médica hematologista do Hospital Municipal Mário Gatti e especialista em doenças da coagulação, Tayana Teixeira Mello avalia que o número é alto, e expõe a Covid-19 como um gatilho. O vírus aumenta os casos de trombose em pacientes graves. “A gente, nesses três anos, observou que o vírus é trombogênico. Covid-19 é um vírus que leva a uma inflamação na parede do vaso sanguíneo que predispõe a trombose, especialmente os internados com gravidade. […] No geral no Brasil, casos mais graves de trombose no período pós-vacinal foram em pessoas que não tomaram a vacina ou não completaram a cobertura. As vacinas são seguras”, alerta. Os riscos para o aparecimento de coágulos nas vias sanguíneas aumentam em pacientes que precisam ficar mais de 72 horas internados. mil habitantes por ano. “A internação é um fator de risco importante, porque o paciente está a maior parte das vezes sentado ou deitado, com redução de mobilidade, que leva à redução do fluxo sanguíneo com maior predisposição da formação de coágulo, e também pelos problemas de saúde que levaram à internação. Um paciente interno para tratamento de cardiopatia, infecção, cirurgias. Tudo isso prejudicial”, afirma Tayana Mello. A embolia pulmonar também entra na lista preocupante de óbitos evitáveis, também passível de ser prevenida com anticoagulantes e também meias elásticas compressoras para as pernas e fisioterapia motora. Foram 584 casos em Campinas entre 2020 e este ano , sendo os dois últimos anos com 178 ocorrências cada. Nos três anos que antecederam a pandemia, foram 566 – veja no gráfico abaixo. “Não só com pessoas que possuem histórico, pode acontecer com qualquer pessoa. A gente sabe que há potencial genético, mas há outros fatores de risco que levam à doença. Daí a necessidade da implementação de protocolos de trombose no ambiente hospitalar”, explica. Em relação à Covid, o paciente está predisposto a ter vigilância trombótica até três meses após a infecção aguda. e operações para colocação de próteses em joelho e quadril (artoplastia) também ampliam as chances do paciente desenvolver trombose. Nesses casos, o uso de anticoagulante já faz parte do protocolo e é administrado por até 30 dias após o tratamento ou procedimento cirúrgico. “A Covid realmente foi um fator que aumentou esses quadros de tromboembolismo. Pacientes que já tinham problemas vasculares, quando pegavam Covid, desenvolviam a trombose”, lembra Fernanda de Souza Martins, enfermeira e gestora do Núcleo de Segurança do Paciente da Rede Mário Gatti. Além do protocolo para prevenir eventos de trombose, Fernanda adiantou que também deve ser implementados no ano que vem as condutas de prevenção para sepse e infarto agudo do miocárdio nas unidades de Campinas. “Qualquer redução que a gente percebeu, é celebrada. Mas, em termos de qualidade, a gente tem uma meta zero, a gente quer que não tenha mortes que podem ser evitadas”, explica a gestora. Coágulo que causa trombose Reprodução/TV Globo Como vai funcionar nos hospitais e UPAs Indicação de anticuagulante será exclusivo para pacientes internados. Eles vão preencher um monitoramento no momento da internação para avaliar se têm risco alto para trombose. São perguntas sobre fatores de risco, tipo de cirurgia, antecedentes pessoais ou familiares da doença. Se for constatado o risco, um médico vai prescrever e o anticoagulante será aplicado nas primeiras 24 horas da internação, como prevenção. Nas UPAs esse procedimento é iniciado, já que antes não eram nem disponibilizados anticoagulantes nestas unidades, a heparina não fracionada. e Emergência da Rede Mário Gatti, explica que quatro UPAs vão integrar o novo protocolo. “O protocolo vem para sistematizar, apresenta r os indicadores. A UPA não tinha acesso a essa medicação, mas devido à permanência dos pacientes nas unidades e à preocupação enquanto rede, vamos ingressar nas UPAs para todos os pacientes que ficam em observação aguardando vaga de internação hospitalar”, diz. Os profissionais de saúde aguardaram a receba treinamento na última sexta (25) na UPA Carlos Lourenço – que começou a ser hospital de campanha para atendimento exclusivo de pacientes com Covid – e esta unidade começa a aplicar o protocolo nesta quinta (1). , Anchieta/Metropolitana e São José – estão programados para ocorrer até a terceira semana de dezembro, com início da aplicação da medicação em janeiro. protocolo a partir de março. “Se não apresentarmos a profilaxia na UPA, o paciente vai chegar no hospital com exames alterados, e o hospital vai ter que correr atrás para estabilizar o paciente. Agora, ele vai chegar no hospital com um quadro clínico muito melhor”, completa. Chance de trombose aumenta devido ao tempo de internação Getty Images via BBC Principais sintomas da trombose Afeta os membros inferiores, normalmente é pontual em uma das pernas. inchaço, edema, vermelhidão e dor no membro afetado. Esses sintomas podem não ocorrer simultaneamente. Em relação à Covid, até três meses pós-infecção aguda o paciente está predisposto a ter parecia trombótica. No caso de embolia pulmonar, o paciente tem falta de ar com dor ao respirar. Também pode perceber sangramento. O anticoagulante só pode ser aplicado com prescrição médica, pois é somente para casos graves e de risco alto para a formação de coágulos no sangue. A trombose é diagnosticada a partir da análise clínica e de um exame de ultrassom doppler, que mostra detalhadamente a circulação sanguínea. No caso de embolia, o exame é a angiotomografia de tórax, explica a hematologista Tayana Teixeira M olá. “Se tiver dor no membro inferior, dor persistente, ou falta de ar, o ideal é procurar o serviço médico. É uma consequência muitas vezes de aumento e geralmente em um membro único. Quando a trombose é diagnosticada precocemente, inicie a anticoagulação e o tratamento é superefetivo, tanto para prevenir, quanto para tratar. A morte é por descobrir tardiamente”, ressalta. O excesso de coagulação no sangue pode causar trombose, infarto ou embolia pulmonar John Cairns/University of Oxford via AP VÍDEOS: confira outros destaques da região Veja mais notícias da região no g1 Campinas

Fonte G1

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