Espécie vive no Nordeste do Brasil e foi redescoberta após 200 anos; desde 2006 os animais vêm sendo monitorados com a intenção de ampliar o número de indivíduos livres na natureza. Artista cria macaco-galego para conscientizar a população do nordeste Pedro Santana/ TG Antero Assis vive em Igarassu (PE), e há 20 anos transforma material reciclado em obras de arte. Seu trabalho mais recente foi inspirado no macaco-prego-galego (Sapajus flavius), primata ameaçada de extinção que só ocorre no nordeste do Brasil. A espécie foi considerada extinta por mais de 200 anos e só foi redescoberta em 2006. Os primatas já foram um dos mais ameaçados do planeta e passaram a ser áreas monitoradas de preservação onde vivem, em três cidades dos estados de Pernambuco, da Paraíba e do Rio Grande do Norte. “Pesquisadores da Universidade Federal de Recife que monitoram esses macacos foram até meu ateliê que fica em Igarassu. Eles desejavam algum monumento da espécie para desenvolver ações educativas e assim, sensibilizar a população sobre a importância do animal”, relembra ele. Como a maior parte dos trabalhos feitos pelo artista é como voluntário, ele decidiu colaborar criando essa escultura. Foram três semanas até ela ficar pronta. Artista produziu arte em 20 dias Pedro Santana/TG Desafio O artista nunca havia feito nada parecido. “Mas aí eu fechei os olhos , começou a imaginar esse projeto e em três semanas estava pronto”, afirma. Antero explica que usava papel reciclado para produzir o monumento. “Eu peguei cartolinas feitas de papel reciclado e imaginei o macaco-prego dividido em partes, como se fosse um quebra -cabeça. Então fui esquentando o papel e cortando as partes que depois juntei. Quando a estrutura estava pronta, foi hora de dar vida às características do primata”, diz. Antero tentou chegar o mais próximo possível das cores do primata que tem uma pelagem mais clara do que o macaco-galego comum. “Os olhos grandes e amendoados , a boca, fui colorindo como se estivesse fazendo um quadro dele”, afirma. Para ele, um trabalho muito especial dedicado à conservação da espécie que precisa ser preservada. “A obra que fica em meu ateliê é disponibilizada para ações de conscientização organizadas na cidade de Igarassu. É bem legal olhar essa escultura prepara e saber que o macaco-galego existe de verdade e aqui em nossa cidade”, comenta Antero. Região Metropolitana do Recife e tem 100 mil habitantes Reprodução/TV Globo Recentemente, foi organizado um desfile com a população da cidade onde o monumento foi apresentado pelo pesquisador, que deu ainda informações sobre o macaco-galego. Crianças e adolescentes de escolas municipais participaram da ação. Sobre o artista Antero descobriu seu talento ainda na infância. “Eu era de uma família muito pobre. Não tinha brinquedos. E eu lembro que costumava pegar espigas de milho, sementes e outros objetos que encontravam na rua para criar meus próprios bonecos”, conta. Pouco a pouco passou a aperfeiçoar suas técnicas. A arte abriu muitas portas para Antero. Hoje, ele tem um ateliê onde passa o dia trabalhado em mamulengos, bonecos que representam uma tradição no nordeste do Brasil. “Muitos dos meus trabalhos são voluntários. Foi a forma que encontrei de ajudar pessoas que passam pelo mesmo que eu passei. Eu faço essas obras e apresento peças de teatro dando vida a esses personagens e passando conhecimento para as pessoas”, destaca. galego, também conhecido como macaco-prego-dourado, tem a pelagem predominantemente dourada, com mãos e pés pretos. Esse primata chega a medir cerca de 42 centímetros (da cabeça até a ponta da cauda) e pesar cerca de três quilos. “Os machos possuem uma barbela (prega de pele pendente sob o pescoço). Essa é a espécie única de macaco-prego que possui essa barbela”, lembra Bruna, pesquisadora da UFPE. Ela acrescenta que esses primatas vivem em grupos que ultrapassam os 30 indivíduos e Macaco-prego-galego surgiu na Caatinga há poucas décadas SOS Caatinga Monitoramento De acordo com a professora da UFPE, os macacos-galegos são mon. itorados há 16 anos. “Colocamos câmeras traps e gravadores nas matas onde eles ocorrem. As tecnologias têm ajudado a flagrar comportamentos desses bichos”, diz ela. A pesquisadora conta que já foram feitas descobertas sobre a forma desses animais usarem ferramentas. “Os macacos-pregos comuns, são os chimpanzés das Américas. Conhecidos pela inteligência, eles usam pedras para quebrar cascatas de frutos e sobreviver na mata. Mas o galego, tem outras técnicas e usam gravetos para caçar”, conta. Uma outra curiosidade é que os macacos-galegos demonstram ter sentimentos de tristeza. “Eles sentiram a dor do luto, assim como nós. E cada vez mais estamos avançando nestas descobertas que podem auxiliar na conservação da espécie que ainda corre perigo”, finaliza. Macaco-prego-galego vive em fragmentos de Mata Atlântica do Nordeste brasileiro e corre risco de extinção Marcelo Maux
Fonte G1