Biólogos estudam aves raras e ameaçadas da Mata Atlântica de Alagoas e Pernambuco

Campinas e Região



Zidedê-do-nordeste e cara-pintada são exclusivas do Brasil e estão ameaçadas de extinção. Planos de conservação buscam proteger aves e reverter situação crítica das espécies. Zidedê-do-nordeste é ave exclusiva do Brasil e está globalmente ameaçada Carlos Gussoni Onde existem áreas preservadas, existe também muita vida. Mas quando se trata de uma localidade restrita, as vidas que ocorrem nesse lugar tendem a ser raridades. É o que acontece com a região do Centro de Endemismo Pernambuco, uma porção da Mata Atlântica ao norte do Rio São Francisco que foi intensamente desmatada durante a colonização do Brasil, e sofre ainda hoje com desmatamento e avanço da pecuária no entorno. Nessa área, as aves ameaçadas de extensão encontram refúgio e muitas delas são pouco conhecidas pela grande maioria das pessoas, é o caso do zidedê-do-nordeste (Terenura doente) do cara-pintada (Phylloscartes ceciliae). Enquanto pouca gente se atenta a essas seres, o pesquisador se dedica a estudar essas espécies e a desvendar questões que ainda não sabem sobre elas, tudo isso com o objetivo de protegê-las e, ainda, amenizar as graus de ameaças que elas já enfrentaram. Fêmea do zidedê-do-nordeste apresenta plumagem da barriga alaranjada Lorena Patrício Desde de dezembro de 2021, o ornitólogo Carlos Otávio Gussoni, estudante de biologia Lorena Patrício, e equipe do Projeto Mata Atlântica do Nordeste, desenvolvido pela SAVE Brasil, vão a campo para coletar informações sobre o zidedê-do-nordeste com esse propósito. “Esse estudo direcionado ao zidedê-do-nordeste foi iniciado com o objetivo de realizar um censo populacional e preencher as lacunas existentes no conhecimento sobre sua história natural, permitindo a elaboração de estratégias mais eficazes para sua conservação”, comenta Gussoni. Das chocas e choquinhas, a Thamnophilidae, o zidedê-do-nordeste foi descoberto na década de 80 pelos pesquisadores Dante Teixeira e Luiz Pedreira família Gonzaga. O achado ocorreu em Murici (AL) e posteriormente a espécie foi encontrada em outras regiões do mesmo estado e também no Pernambuco. Atualmente, acredita-se que o zidedê-do-nordeste mudou apenas em 10 localidades desses dois estados. “Ele é considerado criticamente ameaçado de extinção, pois a população está muito fragmentada e não existem continuamentes da espécie”, acrescenta o ornitólogo. Zidedê-do-nordeste Ciro Albano/Arquivo pessoal depende de florestas altas e bem conservadas Com o trabalho de campo realizado até agora, os biólogos já conseguiram trazer novas informações sobre a vida dessa ave rara. “Conseguimos descobrir como ela captura as presas, principalmente em folhas verdes nas copas das árvores, geralmente a 12 metros acima do solo. Durante os trabalhos com história natural da espécie desenvolvemos uma lista de espécies de árvores nas quais ela captura o alimento, incluindo espécies nativas como: cupiúba, gameleira e murici”, pontua. Além disso, uma das informações mais importantes que obtiveram até agora é que eles conseguiram estimar o tamanho populacional da espécie na Serra do Urubu, área florestal que faz parte da RPPN Pedra D’Antas, administrada pela SAVE Brasil e RPPN Frei Caneca. “Esse é um dos principais redutos do zidedê-do-nordeste no mundo, e nessa área é possível localizar 26 indivíduos da espécie”. Cara-pintada captura presas na copa das árvores a 18 metros acima do solo Carlos Gussoni Para recolher as informações que faltam sobre o zidedê, os investigadores vão para a mata nos horários de maior atividade dela, que consistem com o período da manhã. Durante as observações eles vão anotando tudo o que percebem do comportamento dela. Um dos principais enigmas que eles buscam descobrir é em relação a reprodução do zidedê-do-nordeste. “Até agora não conseguir localizar ninhos, infelizmente. Mas quando foram encontrados, serão coletadas informações referentes ao tamanho do ninho, altura em que foi construído, material utilizado na construção, formato dele, quem incuba os ovos e alimenta os filhotes”, pontua. Cara-pintada é ágil e vive na copa das árvores São muitos enigmas para serem decifrados e eles são determinantes para que ações futuras possam ser traçadas em prol da conservação dessas aves. Apesar do grau elevado de ameaça que se encontra, ainda há esperança de que a situação melhore para essas aves, se medidas de segurança foram feitas, como por exemplo a restauração da Mata Atlântica nessas regiões. “Uma das frentes de atuação da SAVE nessa região é a restauração florestal, que visa aumentar o habitat dessas espécies ameaçadas, garantindo sua conservação a longo prazo e reversão do status de ameaça. espécie, e informações sobre sua história natural para que seja possível agir de maneira mais assertiva para garantir a sua conservação. Por isso, os estudos que iniciamos no final do ano passado são tão importantes para direcionar as ações de conservação e manejo da espécie”, acrescenta Gussoni. Paralelamente a essas atuações são realizados trabalhos de educação ambiental com o foco na conscientização sobre a existência dessas aves raras e ameaçadas, envolvendo também iniciativas que promovem a geração de renda para as comunidades locais por meio do turismo de observação de aves. “Essa forma a gente mostra que é possível gerar benefícios socioeconômicos com a floresta em pé”, comenta o biólogo. Cara-pintada é ave rara, ameaçada e difícil de ser observada pela administração Carlos Gussoni Em relação ao cara-pintada, outra raridade dessa região, o tempo já conseguiu listar as espécies de árvores nas quais ave capturam seu alimento, estimaram o tamanho do território em que vive um casal dessa espécie, o que corresponde à metade da área de um campo de futebol, e ainda conseguiu detectar 47 indivíduos da espécie no fragmento florestal. Cada informação atendida sobre essas seres ameaçados e exclusivos do nosso território são vitoriosas. E o que não faltam são tarefas para executar a longo prazo. “Nas próximas etapas pretendemos entender as exigências ecológicas de ambas as espécies, buscar respostas para a ausência delas em alguns pontos, pretendemos pelos ninhos para coletar informações sobre buscar a biologia reprodutiva, que é importantíssimo para ações de manejo direto. Já temos um retrato da população local, agora precisamos saber se essa população está estável, aumentando ou visitando”, comenta Gussoni. Arquivo da Paisagem da Serra do Urubu SAVE Brasil Ações de conservação Desde 2000 o SAVE Brasil atua na região por meio do Projeto Mata Atlântica do Nordeste para garantir a proteção dos remanescentes florestais da Mata Atlântica prioritários para a conservação das aves. Duas dessas áreas são a Serra do Urubu (PE) com mil hectares e Murici com 6 mil hectares (AL). Juntas elas abrigam 20 espécies da avifauna que são globalmente ameaçadas de extinção e são um dos últimos refúgios para diversas espécies, como zidedê-do-nordeste e choquinha-de-alagoas. A floresta de Murici está protegida por meio da Estação Ecológia de Murici, que é gerida pelo ICMBio e conta com o apoio da SAVE para fortalecer a gestão. A maior população conhecida de zidedê-do-nordeste é na Serra do Urubu, área que abriga um dos maiores fragmentos remanescentes de Floresta Atlântica Montana do estado de Pernambuco, localizada nos municípios de Jaqueira, Lagoa dos Gatos e São Benedito do Sul.

Fonte G1

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